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DA GERONTOLOGIA A GERONTECNOLOGIA

 

Por Clarisse Odebrecht, M.Sc.;
Luciana de Oliveira Gonçalves, Esp.;
Ingeborg Sell, Dr. rer. nat.

 

Laboratório de Ergonomia, Centro de Ciências Tecnológicas, FURB.
E-mail: clarisse@furb.br

Rua Antônio da Veiga, 140. CEP:89012-500, Blumenau, SC.  

 

Palavras-chave: gerontecnologia, envelhecimento, condições de trabalho, gerontologia, ergonomia.

A longevidade populacional, conseqüência direta da eficiência da tecnologia na área da saúde e saneamento, também tem conseqüências no uso diário dos meios tecnológicos, pelos idosos, tanto para a realização das atividades diárias de cidadão como nas atividades laborais. O objetivo deste trabalho é divulgar os princípios da gerontecnologia e suas principais abordagens para o desenvolvimento, concepção e projetos de ambientes, produtos, sistemas, ferramentas, meios tecnológicos etc. que incluam este cidadão, respeitando seu potencial e limites de forma que as mudanças relacionadas com a idade tenham pequeno ou nenhum efeito na performance, segurança ou satisfação no uso da tecnologia do seu entorno.

 

Keywords: gerontechnology, aging, working conditions, gerontology, ergonomic.

The population longevity, direct consequence of the efficiency of technology in the area of health and sanitation, also has consequences in the daily use of technological means by the elderly, for their ones accomplishment of daily activities as well as related to work. The objective of this paper is to disclose the principles of the gentechnology and its main approaches for the development, conception and projects of environment products, systems, tools, technological means etc., all these ideas should include these citizens, respecting its potential and limits to make the changes, related to the age, have little or no effect in the performance, safety or satisfaction in the technology around them.

 

1. INTRODUÇÃO  

 

O termo gerontologia foi introduzido por Élie Metchnikoff em 1903 e significa o estudo científico do processo de envelhecimento, não só do homem, mas de todas as coisas vivas e inclui a fisiologia do envelhecimento, aspectos sociológicos, psicológicos e outros. O radical grego géron, do qual a palavra deriva, significa ‘homem velho’; o radical logo significa ‘o estudo de’ (HAYFLICK, 1997; BACELAR, 1999). VIEIRA (1996), além de conceituar, afirma a importância da gerontologia como forma de buscar um nível ótimo de vida e de funcionamento, não só retardando o declínio físico e prolongando a vida, mas levando-a a ser mais significativa, com qualidade e novas expectativas. Segundo NÉRI (1997), a atual gerontologia trata a idade cronológica como um indicador das alterações evolutivas em função da interação entre variáveis genéticas, biológicas e sócio - culturais. Envelhecimento e desenvolvimento passam a ser correlacionadas, as alterações evolutivas são encaradas como ganhos e perdas, ligadas a finitude do organismo.  

 

O estudo do envelhecimento, prioritariamente foi explorado pela especialidade médica, a geriatria, com o objetivo de conhecer e minimizar o sofrimento de patologias que acometiam a maioria das pessoas em idade avançada. Com o passar do tempo, e devido às evidências irrefutáveis do envelhecimento populacional global, não só a área médica, mas diversas áreas vêmse dedicando a aspectos específicos do envelhecimento e a especialidade da gerontologia ganha mais adeptos.

 

O fenômeno do envelhecimento populacional, originalmente conhecido apenas nos países desenvolvidos, está caminhando a passos largos nos países em desenvolvimento. Este fenômeno deve-se ao aumento da expectativa de vida, ao declínio da taxa de natalidade e ao declínio da mortalidade prematura, principalmente devido às melhores condições gerais de vida da população após a Revolução Industrial. O fenômeno do envelhecimento populacional global está transformando diversos aspectos da sociedade. Se muito do sucesso da longevidade se deve à tecnologia médica mais eficiente – novas vacinas, novas drogas, novas técnicas cirúrgicas, melhor compreensão de aspectos do envelhecimento etc. - não se pode dizer o mesmo da tecnologia utilizada diariamente por pessoas, como caixas eletrônicos, meios de transporte, dispositivos para o lazer etc. não adequados às limitações de pessoas mais idosas. Muito se tem ouvido das implicações do fenômeno do envelhecimento e seu impacto econômico, político e social (LA VEJEZ, 1999), mas pouco ou quase nenhum esforço está sendo realizado para adaptar o entorno (mobiliário; ritmo, ambiente e ferramentas de trabalho; equipamentos de uso diário etc.) ao idoso.  

 

Por outro lado, a tecnologia se propõe a facilitar a vida das pessoas, não importando onde e como estejam fisicamente e nem em que faixas etárias estão. A questão fundamental do que hoje se apresenta como tecnologia está no fato desta continuar a excluir milhões de pessoas. Ao invés de ser um elemento agregador tornou-se um elemento alienante, que segrega ainda mais as pessoas, tornando-as supostamente incapazes para a realização de tarefas muitas vezes elementares (ODEBRECHT, 2000), contrapondo-se à idéia de autonomia e independência, que segundo PAPALÉO NETTO (1996) é importante para os idosos. Se a tecnologia é compreendida como um elemento facilitador, está-se diante de um grande desafio.  

 

 2. LIMITAÇÕES DA TECNOLOGIA  

 

Na promoção do bem estar, a saúde é essencial. O declínio do estado de saúde, principalmente devido ao envelhecimento, é universalmente temido. O envelhecimento traz consigo nuanças que geralmente são difíceis de serem aceitas por quem passa pelo processo. O envelhecimento ocorre de forma universal, mas a forma de envelhecer é individual. O corpo, muitas vezes, já não mais corresponde aos anseios e necessidades de outrora e a mente não entende estes limites. Ou pelo contrário, fisicamente a pessoa está bem, apresentando perfeita saúde e mobilidade, mas sua cognição não a acompanha mais e, portanto também está debilitada. São casos extremos que trazem muito sofrimento e constrangimentos para quem o vive e também para quem convive e cuida destas pessoas. As limitações podem ser transitórias ou permanentes.  

 

Para que uma pessoa com limitações transitórias tenha sucesso no tratamento e alcance a reabilitação, geralmente tem-se que adaptar o ambiente àquela pessoa, pois em locais não adaptados, os empecilhos existentes no ambiente atrasam o tratamento e não permitem uma reabilitação plena, fazendo com que o problema retorne sistematicamente, tornando-se crônico.

 

Se uma pessoa está acometida por limitações permanentes, deverá viver em um ambiente adaptado às suas condições e necessidades, pois sua dependência de terceiros será certa, e o modo como será cuidado (ou receberá assistência) sofre influência destas adaptações por facilitarem o trabalho do cuidador, o que repercutirá na qualidade de vida, tanto do idoso quanto de quem presta assistência. A dependência gera desconforto tanto para quem provê como para quem necessita de auxílio. A busca da independência com auxílio da tecnologia é um dos desejos de quem pode dela usufruir.  

 

Diversos profissionais têm se deparado com questões que não estão diretamente relacionadas com a sua formação básica, mas que se impõem para poderem exercer suas funções de forma satisfatória. Dentre estes profissionais estão os terapeutas ocupacionais, os fisioterapeutas, os enfermeiros e os arquitetos que necessitam que se desenvolvam dispositivos de auxílio e modificações nos ambientes para que possam prestar melhor assistência às pessoas com limitações. A disponibilidade e o uso de dispositivos de auxílio podem contribuir muito na manutenção da independência de pessoas que sofrem, por exemplo, de doenças reumáticas – talvez a principal queixa à medida que a idade avança. Dos mais simples aos mais complexos problemas, a tecnologia pode criar dispositivos para serem usados, por exemplo, para calçar sapatos e meias ou abrir potes com mãos que estão doloridas e com deformações devido ao reumatismo.

 

Outros dispositivos para levantar de cadeiras ou assentos de toaletes, ou assentos que auxiliem durante o simples ato de tomar banho. Adaptar sapatos trazendo conforto a pés com pouca firmeza e sensibilidade de forma a que tenham maior profundidade e proteções almofadadas para proteger o calcanhar de choques e absorver os impactos. Órteses para auxiliar quanto as modificações anatômicas provenientes do envelhecimento, tais como auxílios para facilitar a locomoção, como bengalas, podem reduzir a carga nas articulações diminuindo a dor. Finalmente, adaptações no ambiente físico da casa, tais como barras para apoio das mãos nos banheiros e degraus são importantes para preservar a independência (BADLEY & ROTHMAN, 1996).  

 

A cultura auxilia a compensar fragilidades humanas e tecnológicas (FRY, 1996). Em culturas tecnologicamente simples as pessoas ficam mais facilmente imóveis. Por exemplo, se alguém não pode alcançar água, a presença de um neto pode resolver o problema. Nas sociedades tecnologicamente mais complexas, com uma série de dispositivos que auxiliam no trabalho, a tecnologia reduz a desagradável fragilidade física. As máquinas não otimizam apenas o tempo, mas também reduzem a necessidade de força física. Assim, órteses tais como: o marcapasso, cadeiras de rodas, óculos, aparelhos para surdez, e andadores habilitam as pessoas enfraquecidas a continuar com suas atividades diárias. Ironicamente, mesmo que a tecnologia apropriada esteja disponível e com o seu uso dos efeitos do declínio funcional sejam reduzidos, as pessoas, de um modo geral, têm medo da frustração da incapacidade funcional que acompanha a maioria dos que chegam a uma idade avançada.  

 

3. CONSIDERAÇÕES DA ERGONOMIA  

 

A otimização das relações entre pessoas (indivíduos, grupos e organizações) com a tecnologia e o ambiente sempre foi a preocupação e o objetivo dos que trabalham na área de ergonomia. Considerada uma área multidisciplinar, pois estende seus conhecimentos à compreensão de máquinas, postos de trabalho e produtos com base no saber científico das ciências biológicas (anatomia, fisiologia e medicina), ciências do comportamento (psicologia e sociologia) da física e engenharia (máquina, posto de trabalho e ambiente com o qual o trabalhador interage).

 

A busca e integração dos dados destas várias áreas do saber visam esclarecer a relação do homem com as diversas exigências sofridas ao longo de sua vida, principalmente as relacionadas com o seu ambiente de trabalho. Com este conhecimento poder-se-á proporcionar o aumento da segurança, eficiência e bem estar nos sistemas homem-máquina. O projeto do sistema homem-máquina será melhorado se forem respeitadas as capacidades e limites do homem no projeto e concepção de produtos, processos e ambientes, baseados nos princípios científicos estabelecidos pela ergonomia (GARG, 1991).

 

O envelhecimento é uma variável importante e deve ser considerada na análise ergonômica, para o projeto de postos de trabalho e ambientes, apesar de ainda existir uma lacuna na disponibilidade de dados para os projetos. Assim, com a inserção da variável longitudinal na vida humana – o processo do envelhecimento – surge o subcampo da Gerontecnologia. Estes profissionais estão interessados em desenvolver auxílios e dispositivos para reverter o declínio da força, mobilidade, flexibilidade e outras áreas relacionadas com as perdas provenientes do envelhecimento (GOLDBERG & ELLIS, 1996), sendo fundamental a contribuição dos conhecimentos da ergonomia para este processo.

 

4. GERONTECNOLOGIA

 

O termo gerontecnologia é formado de duas palavras: gerontologia – o estudo científico do envelhecimento e dos idosos, e tecnologia – pesquisa e desenvolvimento de várias técnicas e produtos. O termo foi cunhado em 1980 por Jan A.M. Graafmans e Wiebo H. Brower da Universidade Técnica de Eindhoven na Holanda. Gerontecnologia é definido como o estudo do processo e necessidades provenientes do envelhecimento buscando soluções da tecnologia para melhorar a vida diária dos idosos (BOUMA,1992) tanto doméstica como nos ambientes de trabalho e também adaptar o auxilio médico para os idosos e seus cuidadores (VERCRUYSSEN et al., 1996).

 

Gerontecnologia é o estudo multidisciplinar do envelhecimento e da tecnologia para adaptar os ambientes no qual vivem e trabalham os idosos e seus cuidadores para que tenham sua independência preservada, possam participar da sociedade e trabalhar melhor com saúde conforto e segurança. Gerontecnologia é uma área profissional nova, ou disciplina aplicada, concebida para o desenvolvimento de técnicas e produtos baseados no conhecimento do processo do envelhecimento e preferências e aspectos culturais dos idosos.

 

As atividades de pesquisa básica e aplicada envolvem a interação dos idosos com produtos e a construção de ambientes adaptados. Particularmente importantes são os desafios e oportunidades do envelhecimento humano normal e patológico. “Desafios” referem-se ao processo das alterações físicas, psicológicas, de percepção, cognitiva e motora relacionadas com a idade que podem se tornar inconvenientes. “Oportunidades” se referem aos resultados positivos advindos das novas atividades proporcionadas pelo maior tempo livre, como a descoberta de novos potenciais relacionados ou não com o trabalho, relacionamento com os familiares e pessoas da comunidade.

 

O objetivo complementar é entender como a idade afeta o alcance e padrão de uso dos dispositivos tecnológicos existentes. Essencialmente, a gerontecnologia utiliza a tecnologia disponível para reduzir anos de morbidade (condições de doença) e desconforto, acrescentando autonomia funcional (estendendo os anos de vida independente) (VERCRUYSSEN et al., 1996). As cinco principais abordagens da Gerontecnologia são:

 

a. melhorar as ferramentas tecnológicas para o estudo do processo de envelhecimento;

b. prevenir os efeitos do declínio da força, flexibilidade e resistência associadas com a idade;

c. aumentar a performance das novas funções (oportunidades) a serem assumidas decorrentes do envelhecimento;

d. compensação do declínio das capacidades (os desafios) associada com o envelhecimento; e

e. assistência aos cuidadores (VERCRUYSSEN et al, 1996).

 

Para atingir estes objetivos é necessário conhecer a idade da população, tendências locais de envelhecimento e aspectos culturais. Portanto é necessário (VERCRUYSSEN et al, 1996):

 

a. melhorar as pesquisas sobre o processo do envelhecimento Gerontecnologia provê tecnologia para melhorar o modo de como o processo do envelhecimento é estudado. Inovações tecnológicas podem aprofundar e ampliar o conhecimento básico de forma a facilitar a aplicação destas informações. Gerontecnologistas podem contribuir diretamente no desenvolvimento de pesquisas básicas sobre o processo de envelhecimento e providenciar melhorias tecnológic as auxiliando na criação de um repositório de conhecimentos acessível à comunidade em geral.

 

A nível aplicado, gerontecnologia é o primeiro passo para a interpretação de conhecimento fundamental e da conveniência desta informação para leigos e usuários finais e profissionais na forma de recomendações, guidelines e posicionamentos. Alguns exemplos deste esforço já podem ser mensurados, tais como a imagem computadorizada de órgãos e tecidos, processamento de sinal de eventos neurológicos, medidas e monitoramento do fluxo sangüíneo e a aquisição de medidas biomecânicas não invasivas. Muitas destas tecnologias têm revolucionado o estudo científico do processo de envelhecimento biológico e fisiológico proporcionando tratamentos mais eficazes e efetivos, contribuindo para aumentar a sobrevida com qualidade.

 

b. Prevenção. A maior possibilidade de uso efetivo de tecnologia para o envelhecimento humano é a prevenção, especialmente nos declínios de força, flexibilidade, resistência e outros tais como capacidades e habilidades relacionadas com a idade. Tecnologia tem uma função na prevenção primária (evitar perdas à saúde) e na prevenção secundária (evitar conseqüências indesejáveis destas perdas).

 

Pesquisas mostram que estas perdas e muitos outros problemas da idade são modificáveis através de longos intervalos, intervenções não somente médicas, mas envolvendo também nutrição, atividade física, treinamento, modificações de ambientes e remodelagem do estilo de vida, evitando-se a exposição a condições ambientais cronicamente perigosas tais como poeiras e ruído excessivos, consumo de álcool e fumo e assim por diante. Exemplos incluem os benefícios do treinamento aeróbico e de esforço na promoção da saúde, prevenção de problemas e proporcionar bem estar, como por exemplo, os já conhecidos benefícios do controle de ruído ao longo da vida reduzindo a necessidade de aparelhos para surdez na velhice.

 

O papel preventivo da tecnologia inclui no projeto do equipamento elementos facilitadores para a intervenção e o projeto do monitoramento do equipamento de tal forma que sempre forneça feedback. Exemplos disto inclui equipamentos para treinamento que sejam estimulantes e interessantes de usar, equipamento de monitoração de funções fisiológicas, e equipamentos de advertências para pessoas que usam ferramentas perigosas. A tecnologia terá um papel na prevenção primária ou secundária, dependendo do momento do seu uso. Por exemplo, o uso de interruptores de luz acionados pelos movimentos humanos, próximos a escadas ou passagens previne a ocorrência de problemas. Em casos onde o declínio relacionado com a idade realmente ocorreu, dispositivos de monitoramento e sinais de advertência irão prevenir conseqüências adicionais, causadas pelas perdas (aumento do risco de acidente causado pela deficiência sensorial na percepção).

 

c. Melhoramentos (Adaptações). Gerontecnologia fornece tecnologia para melhorar a performance das novas funções (oportunidades) provenientes do envelhecimento, incluindo a troca de função no trabalho, lazer, e situações sociais. Com a idade surgem oportunidades em forma de tempo para novas interações sociais e atividades, tempo para novos estudos e atividades de lazer, e auto-realização.

 

Esta área de desenvolvimento é colocada atrás das outras, mas tem um grande potencial. Exemplos incluem o projeto de casas adaptadas que satisfaçam às necessidades das pessoas ao longo do ciclo de vida e da família ou tecnologias com comunicação amigável que conectem os usuários idosos de forma remota para conversar com familiares ou amigos em multimídia ou para buscar auxílio, recreação e educação.

 

Os idosos irão adquirir novas funções nas sociedades que permitem o uso, o saber e a experiência de seus cidadãos idosos. A tecnologia irá influenciar de forma semelhante o modo dos jovens e dos idosos navegarem na informação da velhice.

 

d. Compensação. Gerontecnologia fornece tecnologia para compensar declínios das capacidades funcionais associadas à idade, que poderão ameaçar o viver independente. Dispositivos de assistência e outros auxílios tecnológicos para os idosos irão compensar estes declínios e restabelecer a autonomia funcional.

 

Muitas aplicações ergonômicas durante o processo de envelhecimento e para os idosos são baseados nestes objetivos, assim a compensação é o principal aspecto de desenvolvimento das cinco abordagens gerontecnológicas. Exemplos incluem produtos e técnicas para compensar as conseqüências de perdas sensórias e de percepção, reprojeto de tarefas que considerem variável a velocidade nos tempos de resposta, e dispositivos que podem ser operados com força e habilidades motoras reduzidas.

 

Outros exemplos incluem a adaptação de condições de luminosidade requerida em tarefas visuais, uso de auxílios na mobilidade para locomoção, e dispositivos de assistência que permite a realização das atividades da vida diária (AVD), especialmente quando tais atividades não podem mais ser completadas sem assistência compensatória.

 

Os relatos confirmam que muitas das quedas dos idosos ocorre em casa nos primeiros lances das escadarias devido a inadequada luminosidade, o que pode facilmente ser resolvido com um simples projeto para aumentar a iluminação geral e/ou instalar uma guia visual nos primeiros lances das escadarias. Outra solução para o problema da iluminação é a instalação de interruptores de duas fases no alto e embaixo da escadaria permitindo a iluminação dos degraus durante o pequeno período de tempo que uma pessoa transpõem os degraus. Além disso, é importante que a iluminação mostre tanto a largura e a altura dos degraus.

 

e. Assistência aos cuidadores Gerontecnologia fornece tecnologia para assistir àqueles que fornecem cuidados domiciliares para pessoas idosas e incapazes. Por exemplo, dispositivos têm sido ergonomicamente projetados para auxiliar o levantamento e transferência de pessoas que não se podem mover sozinhas. Uma alternativa criada recentemente em países desenvolvidos (e com capacidade financeira) é a utilização domiciliar de equipamentos médicos tais com respiradores, dispositivos para injeções intravenosas, equipamentos de monitoramento. Estes equipamentos podem ser utilizados e monitorados não só por médicos e enfermeiros, mas também por cuidadores familiares ou não profissionais, que são treinados para dar tal assistência a idosos em fase crítica.

 

A Human Factors and Ergonomics Society criou recentemente um grupo dedicado a enfocar esta preocupação e prover guidelines para tais organizações como o American Institute for Medical Instrumentation segundo VERCRUYSSEN op cit.

 

5. MODALIDADES DE APLICAÇÃO

 

O Instituto de Gerontecnologia (Institute for Gerontechnology) com sede na Universidade de Tecnologia de Eindhoven – Holanda (Eindhoven University of Technology) está a frente de diversos projetos cujo objetivo é desenvolver uma base científica em Gerontecnologia. Dentre estes projetos encontra-se a modelagem e simulação física para obter dados sobre o processo do envelhecimento (GRAAFMANS & HARRINGTON, 1998).

 

Pessoas de todas as idades utilizam tecnologia para facilitar a realização de tarefas da vida diária. Flexibilidade e adaptabilidade para encontrar as mudanças necessárias dos usuários são muito importante. Consequentemente, quando são feitas recomendações de projeto a gerontecnologia precisa considerar acessibilidade e usabilidade para todas as faixas de gerações (usuários jovens e velhos) e assim ao longo da vida transpor as individualidades de cada geração.

 

As cinco abordagens de gerontecnologia podem ser aplicadas a quase todos os aspectos da vida de indivíduos idosos tais como:

 

(a) locomoção e transporte;

(b) saúde e medicina;

(c) casa, trabalho, escola e ambientes de lazer;

(d) informação e comunicação e

(e) projeto de produto.

 

Uma das necessidades da adequação tecnológica está na constante troca de funções exercida por cada pessoa ao longo de sua vida. É muito particula r e individual a forma como cada pessoa percebe e reage à esta troca de funções ao longo da vida e das conseqüentes responsabilidades pessoais advindas com estas alterações, por exemplo, de passar do estado de dependente ao de provedor dos cuidados de crianças e adultos.

 

É necessário que a gerontecnologia aliada à ergonomia conheçam o desenvolvimento das pessoas ao longo da vida, e, portanto o que acontece com o avanço da idade e conseqüente envelhecimento e como mudam as interações das pessoas com os equipamentos, ambientes e produtos, e como a tecnologia tem que estar constantemente adaptada às pessoas e as suas mudanças. Ter conhecimento de que existem mudanças na performance devido a idade e que estas variam inter e intra indivíduo influenciando diretamente em como uma função e uma tarefa são executadas.

 

Muitas das deteriorações físicas e confusões mentais que acompanham a idade podem ser compensadas com o desenvolvimento de novas estratégias para aumentar a performance de habilidades. Com o uso de técnicas adequadas de treinamento físico e cognitivo é possível aumentar as possibilidades para indivíduos idosos e manter suas habilidades efetivas.

 

6. CONCLUSÃO

 

A temida perda de performance, que acomete as pessoas que estão envelhecendo, tanto no trabalho como também nas tarefas do dia -a-dia, pode ser reduzida ou possivelmente eliminada com um projeto de produtos, tarefas, ambientes e sistemas efetivos.

 

O desafio para gerontecnologistas e ergonomistas é projetar tarefas e sistemas tais que as mudanças relacionadas com a idade tenham pequeno ou nenhum efeito na performance, segurança e satisfação. Muito já se conhece da fisiologia humana e suas alterações provenientes do envelhecimento. Mas pouco se conhece das preferências, objetivos e formas de realizar as tarefas pelos idosos, o que gostariam de fazer e como gostariam de ser ajudados, sua condição econômica e como isto afeta sua visão da tecnologia e qual o tipo de tecnologia que consideram necessária. Portanto muito ainda necessita ser estudado e pesquisado relativo a estas questões mais complexas (BOUMA, 1992).

 

Faz-se necessário divulgar esta compreensão integral do homem, nas diversas fazes de sua existência para que este conquiste e preserve a prerrogativa de cidadão – inclusive na velhice.

 

7. BIBLIOGRAFIA

 

BACELAR, Rute. Envelhecimento e produtividade: Processos de subjetivação. Recife: Fundação Antônio dos Santos Abranches – FASA, 1999.

BADLEY, Elizabeth M. & ROTHMAN, Linda M. Arthritis. In: Encyclopedia of gerontology. Editor-in- Chief JAMES E. BIRREN, v. I (A-K), Los Angeles: Academic Press, p.111-121, 1996.

BOUMA, Herman. Gerontechnology: making technology relevant for the elderly. In: Gerontechnology. Editors: Herman Bouma & Jan A.M. Graafmans, Amsterdam: IOS Press, 1992.

FRY, Christine L. Comparative and cross-cultural studies. In: Encyclopedia of gerontology. Editor-in-Chief JAMES E. BIRREN, v. I (A-K), Los Angeles: Academic Press, p.311-318, 1996.

GARG, A. Ergonomics and the older worker: an overview. Experimental Aging Research, 17(3), p.143-155, 1991.

GOLDBERG, J. H. & ELLIS, R. D. Human factors and ergonomics. In: Encyclopedia of gerontology. Editorin- Chief JAMES E. BIRREN, v. I (A-K), Los Angeles: Academic Press, p.715-725, 1996.

GRAAFMANS, Jan A.M.; HARRINGTON, Tom L. Modeling and simulation in gerontechnology. In: TIDE 98 Papers. Web Posted on: August 24, 1998; Capturado em 02 mar. 2000. Online. Disponível na Internet em:

http://www.dinf.ch/tide98/90/graafmans_harrington.html

HAYFLICK, Leonard. Como e por que envelhecemos. tradução de Ana Beatriz Rodrigues, Priscilla Martins Celeste, Rio de Janeiro: Campus, 1997.

LA VEJEZ EN TODAS PARTES, Informe Global sobre la Vejez; Asociación Americana de Personas Jubiladas. Traducción del inglés: Lic. Luisa Acrich de Gutmann. In: Gerontologia Mundial, Ano 3, n.4, jul/ago 1999, p.14-28. NERI, A.L. A pesquisa em gerontologia no Brasil. Análise de conteúdos de amostra de pesquisa em psicologia no período de 1975 – 1996.

Texto & Contexto – Enfermagem – v. 6, n. 2, Mai. Ago. 1997.

PAPALÉO NETTO, Matheus. Gerontologia. Editora Atheneu, São Paulo, 1996.

VERCRUYSSEN, Max; GRAAFMANS, Jan A. M.; FOZARD, James L.; BOUMA, Herman; RIETSEMA, Jan. Gerontechnology. In: Encyclopedia of gerontology. Editor-in-Chief JAMES E. BIRREN, v. I (A-K), Los Angeles: Academic Press, p.593-603, 1996.

VIEIRA, E.B. Manual de gerontologia um guia teórico prático para cuidadores e familiares. Rio de Janeiro: RevinteR, 1996.