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Elsie Dubugras
Faz mais de 30 anos que a jornalista, pintora e estudiosa de fenômenos paranormais, Elsie Dubugras, tem cadeira cativa na revista Planeta. Dona Elsie, como é chamada pelos colegas de trabalho, é filha de um barão e antropólogo dinamarquês naturalizado brasileiro e de uma professora escocesa. Com um século de vida, vaidosa e perspicaz, é tida como uma das principais estudiosas do paranormal do Brasil. Coube a ela a divulgação no País e no Exterior de Luiz Antônio Gasparetto, um dos expoentes da pintura mediúnica. “Fiz uma investigação a respeito desse fenômeno. Ele não havia estudado arte e seus quadros eram semelhantes aos de grandes artistas já falecidos, como Renoir”, comenta. Com base na sua atividade, ela escreveu os livros Renoir, É Você? e Luiz Antônio Gasparetto. O médium não só tornou-se conhecido no Brasil como no mundo inteiro e chegou a ganhar um capítulo num dos best-sellers de Shirley MacLaine. Ainda que sejam visíveis algumas dificuldades quanto à mobilidade e visão, a jornalista não interrompeu sua produção. Ela não escreve mais seus textos, mas os dita para alguém. Atualmente, é diretora especial da revista.
“Por isso que estou viva!”
Quando a senhora nasceu e onde foi criada
exatamente? Eu era interna em um colégio, pois minha mãe não queria cuidar de mim. Não gostava de dedicar-se a crianças. Pôs-me lá, fiquei morando no internato junto com uma prima. Depois, meu pai mandou nos buscar. Fui e voltei para a Inglaterra diversas vezes. Minha mãe gostava de andar de navio.
Não, ela gostava da Inglaterra. Meu pai estudava insetos. Durante anos esteve a trabalho na África. Quando terminou, em vez de voltar para a Dinamarca, resolveu ir para um país desconhecido: o Brasil.
Tive dois irmãos mais velhos: William e Hjalmar. Quando o meu pai morreu, os meninos foram mandados para os Estados Unidos. Hjalmar é engenheiro, especialista em represas, e viajou por todo o mundo. Ele ainda vive. O William faleceu há algum tempo.
Sempre tive muita habilidade. É uma coisa da mais tenra infância. Eu me formei jornalista em Londres, no Women’s Institute (traduz) - Instituto Feminino.
Não, que nada, detestava.
Quando o meu pai morreu, tivemos que voltar para o Brasil devido às propriedades que estavam jogadas a esmo, sendo estragadas. Eu queria ficar na Inglaterra, porque, para mim, lá era a minha pátria, onde havia passado a maior parte da minha vida.
Sim, porque era jornalista. Uma coisa muito engraçada: como naquele tempo não tinha disso (aponta o gravador), aprendi taquigrafia. Tenho até diploma arquivado em algum lugar em São Paulo. Cheguei a trabalhar em firmas importantíssimas, não posso citar todas aqui. Fui secretária executiva da Pan American, uma empresa que eu adorei.
Ela não queria que eu me metesse com isso. Achava que secretária era empregada doméstica bem vestida. Não queria que eu trabalhasse como secretária nem como jornalista.
Sim, aos 22 anos. Tive dois filhos, Ian Robert, que já morreu, e Victor Ronald.
Trabalho na revista há 31 anos. Escrevia sempre,
queria vender os meus artigos. Oferecia-os, mas não conseguia
publicá-los, nem emprego, coisa nenhuma. Desesperada, porque não
podia vender o que tinha escrito, comecei a chorar na rua, encostada
num muro da Avenida Paulista. Um senhor que passava viu aquilo,
ficou com pena e perguntou: “Mocinha o que você tem? Por que está
chorando?”. Respondi que tinha textos para publicar e não conseguia
um jornal que se interessasse. Ele disse: “Escuta, você já viu o
Ignácio de Loyola Brandão? Ele tem um escritório na Rua Brigadeiro
Luiz Antônio. Vá até lá e ofereça seu trabalho para ele.” Peguei um
bonde e fui. Procurei o Ignácio, que me tratou tão gentilmente, tão
bondosamente, que eu não tenho palavras para dizer. Ele pegou o meu
artigo e isso deu asas a muitos outros. Comecei a escrever
regularmente. Escrevia tanto que, no fim, me foi dada uma mesa na
editora. Eu escrevia a respeito de qualquer assunto. Um que me valeu o primeiro artigo na revista Planeta foi sobre o trabalho denominado “Vozes dos Mortos em Gravador”, bastante conhecido. Na Suécia, um senhor que gostava de passarinhos resolveu colocar um gravador na janela, de madrugada, para gravar o canto das aves. O interessante é que quando ele foi ouvir a gravação, em vez de passarinhos era gente falando. Como a propriedade era particular e não havia outras pessoas, ele resolveu fazer tudo de novo. Pegou o gravador e pôs na janela. No dia seguinte foi regravar o material e ouviu a voz de sua mãe, que era falecida.
Sim. Mas ele pensou: como minha mãe, que já morreu, pode estar falando? Repetiu a experiência várias vezes e se deu conta de que era algo extraordinário. Falou a respeito do ocorrido publicamente. O assunto popularizou-se como “Vozes dos Mortos em Gravador”. Ele escreveu um artigo muito conhecido que teve publicação até no Brasil.
É meio difícil de responder. Eu não sei. Estudei muito as religiões desde o Budismo, Rosa-cruz, Seicho -no-Ie, Espiritismo, até as árabes. Não escapou uma. Tirei um consenso disso que é difícil para explicar, pois cada uma tem uma idéia.
Não tenho uma concepção porque sou uma criatura humana; e Deus é tão imenso que não dá para resumir.
Sim. Fiz um livro denominado São Paulo no Tempo da Garoa. É um trabalho de artista. Levei 35 anos fazendo esse livro. Como morei muitos anos na Inglaterra, onde se respeita o que é antigo, observei que aqui, vira-e-mexe, derrubavam algum imóvel e faziam outro. Fiz uma pesquisa: sempre que via uma nova construção, em um terreno, queria saber o que era antes. Ia a todos os lugares que se pode imaginar. Pesquisava nos jornais, museus, enfim... Tenho muito dom artístico. Propriamente nunca aprendi, tive um professor de arte quando já estava com 30 anos.
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Fonte: Revista Kalunga |
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