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Um espaço adequado ao idoso A eficácia de nossa interação com o ambiente depende de nossas próprias capacidades e de como estão projetados, ambientes e objetos que nos rodeiam. Ao longo de nossa vida vamos mudando nossas características e nossas atividades. Quando somos crianças, nossas próprias dimensões nos impedem de alcançar ou manipular uma série de objetos, às vezes, por segurança ou, às vezes, porque a criança não foi pensada como usuário. Quando adultos nos encontramos em inúmeras situações que nos dificultam temporariamente de nos relacionarmos com o ambiente, como gestação, fraturas, torcicolos, carregando pacotes muito grandes ou pesados, entre outros. Quando alcançamos uma certa idade nossa força e resistência decrescem, os sentidos ficam menos aguçados e a memória decai.
Também é possível mesmo que não freqüente, ao longo da vida, se adquirir alguma deficiência, sejam elas física, psíquica ou sensorial. Com certeza, vivemos em um ambiente criado por seres humanos para seres humanos e devemos afirmar que, qualquer problema de interação com o ambiente, está motivado pela inadequação deste as nossas necessidades e não por um desajuste das nossas capacidades ao meio. O crescimento da população idosa em grandes metrópoles como São Paulo vem acrescentar a necessidade de uma atenção especial às pessoas, que no decorrer da vida adquiriram limitações. Na cidade de São Paulo, segundo Sposati (2.000), “A população com mais de 70 anos, em 1.996, significa 3,5% dos habitantes da cidade com 346.426 moradores mostrando um crescimento de cerca de 16% entre 1.991 e 1.996, o que é bastante significativo. De fato a cidade envelhece, pois em 90 distritos essa faixa aumentou, isto é, em 94% dos distritos. Ela só reduziu no Belém, Pari, República, Bom Retiro, Sé e Brás.”[1] Identificar a maior parte das possíveis necessidades e de dificuldades de usabilidade[2] dos indivíduos nos extremos da vida, desde uma total dependência quando crianças até a idade avançada, aonde suas características e necessidades divergem do homem dito “Padrão”. Os idosos apresentam na maioria das vezes algum tipo de restrição física, seja parcial ou não, visual, auditiva, locomotora, diminuição da estabilidade, lentidão das reações defensivas, ou seja, indivíduos que embora apresentem quaisquer dessas patologias coabitam, trabalham, dormem, estudam e fazem suas refeições nos mesmos ambientes das outras pessoas, mas que não o fazem com relativo conforto, segurança e satisfação. Quando se pensa num programa de necessidades para um projeto de arquitetura habitacional, não se pode deixar de mencionar uma ação interdisciplinar. A experiência do profissional e a abordagem de vários outros profissionais, com a visão específica de cada um, pode-se chegar a resultados no mínimo satisfatórios de programas que incluam idosos e pessoas com deficiência, como usuários destes projetos. Propostas de atendimento a esse programa devem levar em conta, além das necessidades básicas dos usuários, o impacto das características físicas e psicológicas sobre o desempenho, segurança e satisfação desses usuários. As pessoas mais velhas, que possam ter uma capacidade de reação mais lenta e uma visão e audição deficiente em relação ao utilizador médio, são igualmente mais suscetíveis em sentir os efeitos negativos de concepção inadequada dos produtos e serviços. Cerca de 20% dos cidadãos europeus têm 65 anos ou mais e este grupo etário deverá aumentar para cerca de 25% da população em 2.020[3]. Tal fato, evidentemente, coloca problemas de acesso aos bens e serviços a um número considerável de cidadãos europeus. “Um bom design habilita, um mau design incapacita”. Isto se aplica principalmente aos idosos que podem tornar-se funcionalmente dependentes devido à redução gradual das suas capacidades motoras e sensoriais. O momento em que podem necessitar de ajuda técnica e adaptações na sua casa depende em larga medida do projeto de arquitetura que os circunda e dos produtos que utilizam. Nos casos em que o projeto atende, satisfatoriamente, ao programa das necessidades, a demanda de recursos voltados a itens especializados pode ser reduzida ou mesmo evitada. Os idosos são particularmente suscetíveis a influências ambientais, sejam na climatização ou na temperatura alta ou baixa desses ambientes, cores, formas, luminosidade, enfim, até mesmo são influenciados em lares com os quais estão familiarizados. Portanto, torna-se de extrema importância que o ambiente de convivência do idoso seja o mais apropriado possível, sendo desta maneira, muito mais fácil que os outros indivíduos que convivam com esse idoso se adaptem com maior facilidade às mudanças de que uma situação contrária. As recomendações ergonômicas aliadas a antropometria para essas habitações serão também de grande valia, pois poderão ser referenciais importantes que nortearão dados pesquisados. O que se busca é facilitar uma possível análise do pré-uso dessas habitações, podendo até classificá-las como sendo eficientes e/ou eficazes espacialmente. A ciência e a tecnologia têm o propósito de criar condições para uma existência mais prolongada. Não basta sobreviver: é necessário viver e participar da civilização. Não basta simplesmente prolongar a existência: é necessário dar maior qualidade de vida para estes anos não mais tão dourados. Vejamos as dificuldades encontradas em algumas atividades da vida diária e na utilização dos ambientes pelos os idosos:
Existem também muitos riscos, tais como;
Recomendamos elementos referenciais para um melhor dimensionamento desses espaços, mobiliários e equipamentos, sob todos os aspectos ergonômicos de um universo arquitetônico de uma habitação. Em todos os ambientes; · Necessidade de pisos antiderrapantes. · Evitar presença de ambientes em níveis diferentes e degraus. · Prever ambientes com portas de 0,80m de largura e que seja possível uma área de giro de 1,50m nos cômodos, para circulação de uma cadeira de rodas. · Presença de campainhas de segurança nos quartos e banheiros. · Instalação de dispositivos de segurança para gás e incêndio. · Janelas e terraços com visão para o exterior, devendo seu peitoril de alvenaria ser de no máximo 0,60m de altura do piso. · Prever altura de tomadas, comandos e maçanetas de portas balcão e janelas, caixas de luz e comandos do gás entre 0,40m e 1,20m do piso. · Iluminação de circulação e banheiros com sensor de presença. · Eliminação de tapetes em locais de circulação, pisos antiderrapantes, retirar fios de telefone, ou outros das áreas de circulação, remover excesso de mobiliário, garantindo uma rota de circulação livre de obstáculos; · Planejar disposição de móveis de forma a evitar movimentos de rotação principalmente em banheiros. Áreas externas e salas;
Cozinhas;
Área de Serviços;
Rampas e escadas;
Dormitórios;
Banheiros;
Inúmeros idosos podem citar exemplos infindáveis de insegurança e riscos em suas moradias, devido a um projeto negligente ou inadequado.Deve-se prever sua utilização pelas pessoas devido às mudanças ao longo de sua vida. Caso este idoso passe a se tornar um usuário de cadeiras de rodas, na maioria das vezes ele se vê impossibilitado de habitar na sua própria casa. As barreiras ambientais excluem o idoso e são criadas muitas vezes pela falta de formação de nossos profissionais em prever as necessidades da adversidade. Bibliografia ALMEIDA PRADO, Adriana Romeiro de. A cidade e o idoso: estudo da questão de acessibilidade nos bairros Jardim de Abril e Jardim do Lago. Dissertação de Mestrado. Gerontologia – PUC, São Paulo, 2003. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR9050: Acessibilidade de pessoas com deficiência a edificações, espaço, mobiliário e equipamentos urbanos. Rio de Janeiro, 1994. (última revisão em 31 de maio de 2004) CAMBIAGHI, Silvana Serafino; ORNSTEIN, Sheila Walbe. Como construir banheiros com acessibilidade para pessoas com deficiência física e idosos. Technè, São Paulo. n.75, p. 90-94, jun. 2.003. CAMBIAGHI, Silvana Serafino. Dissertação (Mestrado). Desenho universal: métodos e técnicas de ensino na graduação de arquitetos e urbanistas. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo : s.n., 2004. 291 p. : 18 pranchas. GROSBOIS, Luis Pierre. Handcap et construction: conception et realisation: espaces urbains, batiments publics, habitations, equipements et materiels adaptés. Paris: Publications du Moniteur, 1996. PERRACINI, Mônica. Planejamento e adaptação do ambiente construído para pessoas idosas. In: FREITAS, Elisabeth et alii. Tratado de geriatria e gerontologia. Rio de Janeiro: Guanabara & Koogan, 2002. p.798 – 807. RASCHKO, Bettyann Boetticher. Housing interiors for the disabled & elderly. New York: Van Nostrand Reinhold, 1991. SPOSATI, Aldaíza (coord.). Mapa da exclusão/Inclusão social da cidade de São Paulo 2000 dinâmica social dos anos 90. São Paulo: POLIS, INPE, PUC/SP, 2000. [1] SPOSATI, Aldaíza (coord.). Mapa da Exclusão/Inclusão Social da cidade de São Paulo 2.000. Dinâmica social dos anos 90, São Paulo: POLIS, INPE, PUC/SP, 2.000.p.45. [2] Usabilidade – possibilidade de acesso e utilização de um ambiente construído com autonomia e segurança.
[3]
Fonte: EUROSTAT, 1996
Silvana Serafino CambiaghiArquiteta formada em 1983, Mestre em Desenho Universal pela FAU-USP, desenvolve um trabalho Intersecretarial na Prefeitura do Município de São Paulo, sobre a questão da acessibilidade ao meio físico. Membro do Grupo de trabalho de Acessibilidade do CREA – SP. Membro da revisão da NBR 9050 da Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT sobre Adequação de Edificações e Mobiliário Urbano. Consultora do Instituto Paradigma. Co-Curadora da “Sala Especial de Acessibilidade ao Meio Físico” na 3ª Bienal Internacional de Arquitetura. Jurada do Concurso Internacional de estudantes sobre desenho universal no “D21 Student Design Competition”. Docente dos cursos de Acessibilidade na Fupam - FAUUSP e SENAC. E-mail: silvana@nvcnet.com.br |
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