Humor Links parceiros

Página Principal

Voltar

Posicione-se
você também


Ana Maria Marcondes Pinto

Idoso: Promoção de Saúde Auditiva e Visual 

O envelhecimento é um fato previsível, uma etapa da vida que só é alcançada por quem vive.

 Envelhecimento bem sucedido é possível e depende do investimento pessoal feito ao longo da vida. Idosos portadores de doenças crônicas, quando controladas e prevenidas as seqüelas e complicações podem comandar sua vida, definirem projetos, estabelecer  metas. Julgam-se indivíduos portadores de boa saúde, não por terem ausência de doenças, mas por serem capazes de decisão, comando e realizações por seus próprios meios. 

Apesar de tantas mudanças em sua vida, muitas vezes consideradas como perdas: saúde, trabalho, perdas de parentes e amigos, relações sociais reduzidas, a grande maioria dos idosos mantém a palavra, mesmo quando não tem com quem falar, falam sozinhos. Graças à linguagem podem guardar, compartilhar experiências, interagir com outros.

 É a linguagem seu principal instrumento para viver socialmente, participar do seu meio familiar e de sua comunidade. 

Comunicar é partilhar com alguém um conteúdo de informações, pensamentos, idéias desejos e aspirações com quem têm algo em comum (Russo, 1999). Pela linguagem falada o ser humano participa da sociedade. 

Entretanto, no contato com fatores como; ruídos intensos, sons fortes, dificuldade em perceber sons agudos, usos de medicamentos, doenças, queixas de zumbidos e a exposição ao estresses levam a redução da audição e este idoso pode se apresentar com dificuldades na compreensão. 

 Frustrado pela dificuldade em compreender o que seus amigos e familiares lhes dizem, o idoso pode se afastar das situações de comunicação para não enfrentar embaraços, pela falta de compreensão e possíveis respostas inadequadas. 

A comunicação é essencial para o ser humano, possibilita o indivíduo desenvolver e manter o senso de identidade, pois transmite e recebe informações que ajudam no auto cuidado. Tem um papel terapêutico, principalmente para o idoso, auxiliando na diminuição da ansiedade e depressão. Também auxilia na compreensão e atuação sobre o meio físico e social e tem ainda papel importante no entretenimento e lazer. 

Vivendo em sociedade, o homem necessita da comunicação e quando aspectos importantes do desenvolvimento desse processo apresentam-se alterados, dificultando a sua interação social, a pessoa se apresenta fragilizada, insegura, isolada, dependente e “doente”. 

As perdas auditivas e visuais, tão freqüentes entre idosos, podem comprometer sua comunicação, causar um profundo impacto nas relações sociais, isolando-os. Essas alterações não podem ser simplesmente aceitas como inerentes ao envelhecimento. 

A função visual pode estar alterada por diversas doenças que acometem os olhos com o aumento da idade. As ametropias não-corrigidas, seja pela falta dos óculos receitados ou, pela ausência de prescrição, é uma causa importante de deficiência visual nesta população. A catarata não-operada representa a causa isolada mais importante de cegueira curável do mundo. 

As prevalências das causas de cegueira mais importantes relacionadas à idade indicam que, com o aumento da expectativa de vida da população e conseqüente ampliação significativa das faixas etárias mais elevadas, existe uma tendência para o crescimento destas cegueiras nas próximas décadas, caso, esforços enérgicos não forem despendidos, para solucionar estes problemas oculares. 

Com relação à audição, no processo de envelhecimento, há uma grande perda progressiva em todas as freqüências sonoras, que se acentua nas mais altas, acompanhada de dificuldade na habilidade de entender uma conversação normal. Essa alteração neuro-sensorial é chamada de presbiacusia. Cerca de um terço dos indivíduos com mais de 65 anos de idade, tem comprometimentos auditivos com conseqüências sociais desfavoráveis. Respostas inadequadas podem gerar uma imagem de senilidade. A queixa típica é “ouvem, mas não entendem o que lhes é dito”. 

Há pelo menos duas importantes razões para que os idosos não sejam triados e referidos para avaliação audiológica e tratamento. Os idosos aceitam a diminuição da audição como parte do processo de estarem velhos e acreditarem que não há recursos para melhora. A outra é que médicos e outros profissionais de saúde frequentemente falham em reconhecer a deficiência auditiva.  Mesmo quando o paciente reclama de perda auditiva, contam com apenas 50% de chance de ser referido para o tratamento adequado. Aliado a isso há que se considerar a escassez de oferta de recursos disponíveis na rede pública para exames e diagnósticos. Outro fator complicador é a  condição  econômica de muitos idosos, que dificultam a aquisição de próteses auditivas. 

Das alterações sensoriais que afetam o idoso, a dificuldade na comunicação por deficiência auditiva pode ser a que produz maior frustração comprometendo todo seu relacionamento e produzindo profundo impacto em sua vida psicossocial.  

Muitas vezes os familiares descrevem o idoso com deficiência auditiva como confuso, desorientado, distraído, não comunicativo, zangado, etc. O aumento da pressão para ser bem sucedido na compreensão da mensagem gera ansiedade e cresce a probabilidade de falhar. A ansiedade leva a frustração e a frustração leva a falha; a falha por sua vez leva a raiva e finalmente a raiva leva ao afastamento da situação de comunicação. O resultado é o isolamento e a segregação (Russo, 1999). 

Trabalho realizado com grupos de idosos objetivando detectar problemas visuais e auditivos e suas interferências no desempenho de funções sociais e do cotidiano, revelou que, sintomas funcionais dos órgãos sensoriais da visão e audição são os mais concretamente apontados nos levantamentos de queixas sobre saúde em geral.(4

Na área da saúde auditiva 47,2% referiram ter dificuldades para ouvir a TV, 34,1% com queixa de tontura, 31,8% com zumbido e 19,6% sentiam incômodo com ruído. Submetidos a meatoscopia 36,67% apresentaram alterações em um ou ambos ouvidos.

A acuidade visual medida mostrou que 77,1% apresentaram-se com visão ótima ou boa (1.0 até 0,7 na tabela de Snellen) 13,5% visão regular (0,6 e 0,5) 7,5% visão ruim (0,4 e 0,3) e 19% visão péssima (< 0,3).

Wun et al (1997) mostrou que cerca de 60% das pessoas com 50 anos ou mais têm problemas visuais de diversos graus. Mostrou também a importância da atenção  

primária como uma boa oportunidade de triagem para doenças oftalmológicas, que necessitam de maiores recursos. Este acompanhamento quando feito na atenção primária se mostrou muito eficiente. 

A acuidade visual diminui com a idade, mas com a indicação de óculos é possível alcançar uma visão adequada. Doenças oculares que alteram a capacidade visual devem ser detectadas o mais precocemente possível. 

Com relação à audição no processo de envelhecimento há uma perda progressiva em todas as freqüências e se acentua nas mais agudas. 

Alterações encontradas nas meatoscopias (rolha de cera) prejudicam ainda mais a recepção do som. O estudo da ocorrência de alterações funcional nos órgãos sensorial da visão e da audição, é aspectos fundamentais no processo de comunicação. Evidencia-se na prática diária a importância de um trabalho de prevenção e promoção nesta área. Contribuir para a melhora da qualidade de vida do idoso, sem dúvida requer a preservação de suas capacidades funcionais para que sejam facilitadas a interação social e as possibilidades de comunicação.(5)

Bibliografia

Russo, I.P. Intervenção Fonoaudiológica na Terceira Idade, Revinter Ltda, 1999 – São Paulo.
Harries M LL et al – Hearing aids a case for review. J. Laryngology and Otoscopy 1989, 103:850-52.

Rabadan, O. J. Lenguaje y envejecimiento. Masson, S. A. Barcelona, 1998.
Pinto, et al Promovendo a Saúde da Comunicação na Terceira Idade, in Resumos – 2º Congresso Paulista de Geriatria e Gerontologia – GERP ‘2001 – São Paulo.
Morimoto, W.T.M. et al – Saúde da Comunicação em adultos e idosos, in Resumos – VI Congresso Brasileiro de Epidemiologia – Recife, 2004.
Wun Y.T., Lam CC Shum, W.K. Impaired vision in the elderly: a preventable condition. Family Practice 1997, 14:289-92.
 

 

Clique e posicione-se você também

 

Ana Maria Marcondes Pinto

Fonoaudióloga com formação em Gerontologia da Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo. Experiência em trabalhos de prevenção e promoção de saúde com grupos de Idosos e Coordenadora da Unidade de Saúde do Alto de Pinheiros –SMS-S.P. E-mail: anamariamarcondes@ig.com.br

Cadastre-se!!! Links Crônicas