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Negros, etapas da vida e justiça social
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Finalmente os homens, que tiveram seus antepassados escravizados, sofrem, juntamente com as crianças, jovens e mulheres as mazelas da escravidão. No entanto, de diversas formas reagem contra a supremacia branca, seja por meio das organizações sócias-políticas ou no estilo “black” de se vestir, pentear, falar e ser. Talvez o leitor pergunte o que as colocações feitas anteriormente tenham a ver com o tema. E a resposta é a seguinte: o envelhecimento da população afrodescendente está relacionado com a opressão que desde a infância sofremos. A população negra envelhece inserida em uma sociedade em que impera o fenômeno chamado racismo, fenômeno que segundo o professor Kabenguele Munanga pode-se decompor em três elementos distintos inter-relacionados: a ideologia racista, o preconceito racial e a discriminação racial (1998:47). Considerando que no Brasil o racismo não foi institucionalizado, a “envelhecência” dessa população ocorre conectada na luta contra este fenômeno. Observamos na história do Movimento Negro, militantes importantes que envelheceram intercedendo na sociedade brasileira em prol da igualdade racial, seja no campo político, acadêmico, cultural, religioso. Como exemplos, temos os professores, Kabenguele Munanga, Eduardo Oliveira, Abdias Nascimento. Na última etapa da vida é acrescentada à população afrodescendente mais uma categoria social: a velhice. Ser negro e velho, muitas vezes, é sofrer com o interesse da sociedade capitalista, interesse que, conforme Simone de Beauvoir, “se baseia quase que exclusivamente no interesse da economia, isto é, o do capital e não o das pessoas” (1990:277). O envelhecimento traz alterações na dimensão existencial dos indivíduos, cito como exemplo o esvaziamento dos papéis sociais, a solidão, a perda da autonomia e independência acarretadas geralmente por questões biológicas, o desemprego decorrente da idade avançada, o baixo poder aquisitivo – proveniente dos valores pagos na aposentadoria, as doenças que muitas vezes são o reflexo da precarização social e outros problemas podem ser considerados como algumas dessas alterações. Nessa perspectiva, envelhecer, em nossa sociedade, é viver em situação de vulnerabilidade social. Porém, enquanto o negro, a mulher, o índio, o homossexual falam, lutam por seus direitos, o idoso, para assegurar seus direitos, romper com a posição de subalternidade que a sociedade capitalista lhe designa bem como imprimir uma nova identidade social, também se organiza, porém, não conquistou ainda a mesma respeitabilidade como as demais organizações políticas, talvez isso ocorra em função do sistema econômico vigente. Existem questões específicas dos idosos que devem ser lembradas e discutidas, sejam para idosos negros, brancos ou homossexuais; questões como: direito à saúde, aposentadoria, moradia dignas, modelos novos de instituições de longa permanência que não sejam “depósito de velhos”, serviços diversos de atendimento domiciliar que garantam a permanência do idoso em sua moradia, a promoção e o incentivo à participação em atividades culturais e sociais visando a eliminação da solidão, e, principalmente, o envolvimento nas atividades políticas para aqueles que chegaram na última etapa da vida, sem nunca terem se voltado para atividades dessa natureza. Assim, eles, em conjunto com os demais, contribuirão para a eliminação da pseudo-democracia em que vivemos, garantindo às novas gerações a plena justiça social que hoje almejamos. Referências BARROS, Myriam Moraes Lins. Velhice ou terceira idade? Estudos antropológicos sobre identidade, memória e política. Rio de Janeiro. Editora Fundação Getulio Vargas. 1998. BEAUVOIR, Simone. A Velhice. Rio de Janeiro. Nova Fronteira. 1990. BRANDÃO, André Augusto P. (org.) Programa de educação sobre o negro na sociedade brasileira. EdUFF. Niterói. RJ. 2004. MUNANGA, Kabenguele. Teorias sobre o racismo. In: Racismo: Perspectivas para um estudo contextualizado da sociedade brasileira. EDUFF. Niterói. Rio Janeiro. 1998. SFORZA, Luca Cavalli e Francesco Cavalli. Quem somos? História da diversidade humana. Editora Unesp.
Assistente Social e Mestre em Gerontologia Social pela
PUC/SP. Profa. da Faculdade Paulista de Serviço Social de
S.Caetano do Sul/SP. E-mail:
suelmadeus@hotmail.com e
habisudest@ig.com.br |
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