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Por que contratar idosos? Ana Maya Goto Uyehara – pesquisadora mentora Este estudo aborda a mão-de-obra idosa como desafio para uma reorganização social que articule de forma mais propícia a valorização dos recursos humanos existentes e como fator macroeconômico e demográfico a ser considerado no planejamento estratégico das empresas modernas para agregar valor aos seus produtos/serviços. Ele traz o estudo de caso da fábrica Biscoitos Festiva (SP) que contrata idosos experientes, ou os mantém trabalhando depois de aposentados, ao mesmo tempo em que explora as relações que permeiam o tripé empresa/trabalhador idoso/jovem trabalhador e discute quem é "velho" para trabalhar. Optou-se pela metodologia quanti-qualitativa, utilizando-se da revisão bibliográfica em um primeiro momento e do trabalho de campo em um segundo momento, no qual, para a coleta de dados elaborou-se um questionário, composto de perguntas abertas e fechadas, diferente para cada público alvo: empresa/empresário, idosos e não-idosos. Do total de 208 funcionários, foram entrevistados 20, sendo 14 mulheres e 6 homens, mais o presidente, totalizando 21 entrevistas. Todas as entrevistas foram filmadas com o consentimento dos depoentes, para facilitar a transcrição das falas. A análise dos resultados permite apresentar algumas considerações: a) a Festiva contrata idosos experientes por iniciativa do seu presidente e isso tem sido positivo para melhorar a produtividade do ambiente fabril e fazer frente à concorrência; b) o convívio entre jovens e idosos é harmonioso, propiciando troca de experiências; c) os idosos mais antigos de casa têm oportunidades de crescimento na empresa, mas não possuem o nível de escolaridade mínimo desejado (1o. grau), porque iniciaram a vida laboral muito cedo, o que resultou no abandono da escola; d) não se vislumbra mais a contratação de idosos com 60 anos ou mais de idade, porque os candidatos às vagas, segundo último censo do IBGE, não possuem o nível de escolaridade exigido; e) o mercado de trabalho tem rejeitado pessoas em média com 40 anos de idade, mas para a maioria dos pesquisados não existe idade para interromper a vida do trabalho, desde que a pessoa tenha boa saúde física e mental, e sabem da dificuldade de encontrarem trabalho após os 35-40 anos; f) os idosos trabalham porque precisam levar o sustento para a família, mas têm planos para o futuro que incluem reformas na casa, um negócio próprio, o retorno à terra natal, a vida no sítio para criar animais e plantar, trabalhos voluntários; g) a juventude é considerada primeiramente como estado de espírito da pessoa, complementada pela aparência bela e saudável; h) existe um sentimento de gratidão na relação empregado/empresa, pelo reconhecimento da política de contratação da empresa que dá oportunidades para os empregados de qualquer faixa etária, e prevalece também o sentimento de consideração na relação jovem/idoso. As entrevistas propiciaram uma escuta da subjetividade de cada um e suas implicações afetivas, uma oportunidade de "olhar" e "ver" o envelhecimento no ambiente de trabalho e o "repensar" a própria velhice. Os objetivos propostos foram atingidos ficando claro que "os idosos não podem mais ficar em casa, esperando o tempo passar". Devem construir a sua própria velhice, considerando as limitações naturais impostas pelo tempo, onde possam exercer a sua criatividade, compartilhar as experiências acumuladas com indivíduos de outras gerações, contribuindo para a mudança de pensamento da sociedade sobre o significado do "ser velho" que nunca deixou de ser homem. Enfim, "trabalhando, o idoso não tem tempo para envelhecer". Contratando um idoso, a empresa renova, oxigena a sua força de trabalho e propicia a troca de experiências, melhorando sua produtividade e perpetuando a sua memória organizacional.
UYEHARA, A.M.G. (2005).
Por que contratar idosos? Um estudo de caso da empresa |
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