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Exercícios de força para idosos
por Vandeir Gonçalves
Grupos populacionais acima dos sessenta anos tem
obtido um rápido crescimento nos últimos tempos, aumentando positivamente a
expectativa de vida dos seres humanos. Este fenômeno que está acontecendo na
maioria das sociedades do mundo, e em especial, nas mais desenvolvidas, se
deve a um decréscimo na fecundidade total contribuindo para alterações nas
taxas de natalidade; e diminuição nas taxas de mortalidade, devido a
melhores técnicas de controle de doenças infecto-contagiosas e enfermidades
cardiovasculares (1,2). Entretanto não necessariamente este fato nos diz que
as pessoas que agora estão vivendo mais (aspecto quantitativo), estão também
vivendo melhor (aspecto qualitativo).
Introdução
O envelhecimento é um processo único e inexorável, caracterizado pela
redução gradativa da capacidade dos vários sistemas orgânicos em realizar
eficazmente suas funções (1,4), e muito desta redução associada ao processo
de envelhecimento pode ser resultado do estilo de vida dos indivíduos, e não
apenas uma característica própria e inevitável deste processo (5).
As principais alterações que ocorrem com o processo de envelhecimento e
estão relacionadas à aptidão física, são nas variáveis antropométricas
(incremento do peso e da adiposidade corporal, afetando o IMC ou índice de
massa corporal; diminuição da densidade óssea; e redução da massa livre de
gordura), nas variáveis metabólicas (decréscimo da potência aeróbia e
redução do consumo máximo de oxigênio), e nas variáveis neuromotoras
(diminuição da flexibilidade; redução do número de unidades motoras;
diminuição da força de membros inferiores maior que de membros superiores; e
diminuição do número de fibras musculares, essencialmente do tipo II).
Dentro destas variáveis, a diminuição da força muscular é, entretanto, um
dos fatores que está mais diretamente relacionado com a independência
funcional em pessoas idosas (1,2,3), podendo significar a diferença entre
uma vida autônoma ou não (4).
A importância da função muscular na autonomia do idoso reside no fato da
força associar-se inegavelmente a uma grande quantidade de atividades
cotidianas. A reserva funcional de certos indivíduos de idade avançada é por
vezes tão baixa, que atividades aparentemente fáceis e comuns como se
vestir, tomar banho, passear pela rua, preparar sua própria refeição e se
alimentar sozinho se tornam bastante difíceis (2,4).
Variáveis antropométricas
Com relação as variáveis antropométricas, as pesquisas não verificaram
alterações significativas no peso corporal nem no IMC em pessoas idosas após
programa de treinamento de força, seja este treinamento de alta ou baixa
intensidade. Isso se deve principalmente ao incremento da massa magra (livre
de gordura), provocados pelo efeito anabólico do treinamento com pesos
induzindo a síntese de proteínas. Contudo o treinamento de força muscular
apresenta impacto sobre a metabolização da gordura corporal, diminuindo
assim a adiposidade. É especulado por vários autores que o aumento do
consumo de oxigênio após o exercício ou EPOC (excess post exercise oxygen
comsuption), promovido pelos exercícios de força muscular, implicaria no
incremento da necessidade energética de repouso, estimulando a metabolização
da gordura corporal e diminuindo a variável adiposidade. Aparentemente os
exercícios aeróbios parecem exercer maior efeito quando se diz respeito
apenas ao peso corporal total (1,2).
Variáveis metabólicas
As alterações fisiológicas decorrentes da idade incluem também uma redução
na função cardiovascular, acompanhado de menor elasticidade da rede vascular
periférica, além de um decréscimo no consumo de oxigênio (VO2 max.). O VO2
máx. é uma variável que tem sido amplamente utilizada como indicador da
capacidade funcional (6).
Pesquisas comprovam que através de um programa de treinamento com pesos,
idosos obtém melhora bastante significativa em teste de esforço realizado em
esteira, ocorrendo um aumento no tempo total de teste, sugerindo um
retardamento no aparecimento da fadiga, inferindo-se daí que essa melhora de
resistência possa ter ocorrido em função do ganho de força muscular obtido
com o treinamento. Este aumento no tempo de esforço e na capacidade de
resistência em função do treinamento de força é acompanhado por um aumento
no consumo de oxigênio (VO2 máx.) (6).
Além disso, ocorreram alterações em redução da freqüência cardíaca de
repouso, sugerindo com isto uma melhora na eficiência do sistema
cardiovascular (6).
Variáveis neuromusculares
Os maiores níveis de força muscular são alcançados entre os 20 e 30 anos,
verificando-se posteriormente uma redução tanto na força quando na massa
muscular, que após a meia idade é acentuada (3). As alterações
neuromusculares relacionadas com a idade têm sido denominadas por alguns
autores como sarcopenia, e relatadas pela redução dos motoneurônios alfa,
redução do número de unidades motoras e redução de fibras musculares. Como
conseqüência destas mudanças, ocorre o decréscimo na força muscular
principalmente nas extremidades inferiores, que está associada à menor
velocidade de caminhada, menor equilíbrio, menor habilidade de subir escadas
e levantar-se de uma posição sentada, contribuindo negativamente para o
desempenho das atividades da vida diária (1,2,3).
Esta perda diferencial da força muscular entre os membros corporais é
explicada principalmente pelo decréscimo absoluto da quantidade de
exercícios e atividades físicas que as extremidades corporais realizam, onde
o maior declínio de movimentos do cotidiano exerce impacto fundamental.
Embora menos do que na idade adulta, o idoso mantém os membros superiores em
constante atividade, aumentando sua capacidade de produzir força muscular
(1,2,3,4); além disto esta região corporal sofre mais os efeitos da
sarcopenia. Assim, os benefícios diretos do treinamento de força muscular
são mais proeminentes nos membros inferiores do que nos superiores (3).
Estudos demonstram que através do treinamento de força se pode aumentar a
agilidade de pessoas idosas, ou seja, melhorar a capacidade destas pessoas
em realizar deslocamentos alterando seu centro de gravidade, e a partir daí,
incrementar seu equilíbrio, possibilitando a estes idosos realizarem com
segurança os movimentos do cotidiano (1,2,4). O tipo específico de exercício
é que determinará as adaptações específicas dos mecanismos fisiológicos do
indivíduo (3), devido a adaptações favoráveis no próprio músculo e em sua
organização neural (5).
Os benefícios do treinamento de força para idosos vão além disto. A
sobrecarga mecânica provocada pelo treinamento físico estimula o efeito
pizoelétrico no osso que assim, gera maior atividade osteoblástica,
aumentando a formação óssea pelo incremento na síntese de proteínas e de
DNA, tornando-os menos suscetíveis às fraturas ósseas que geralmente
acompanham pessoas idosas, principalmente as mulheres (1,2,3).
Assim, o treinamento de força muscular mais que o treinamento aeróbio,
estaria diminuindo os efeitos negativos do envelhecimento sobre as variáveis
neuromusculares e proporcionando ao idoso, a possibilidade de ser
funcionalmente independente além de reduzir a incidência de fraturas ósseas
(1,2,3).
Considerações finais
As evidências sugerem que a prática sistematizada de exercícios físicos
produz efeitos protetores contra a evolução das doenças crônico
degenerativas nos diferentes estágios de vida, propiciando não somente
incremento na expectativa de vida, mas acima de tudo melhora no estado de
saúde do indivíduo, fazendo do exercício uma estratégia de saúde pública de
fundamental importância. Vale ressaltar que a maioria das pesquisas
consultas se refere a períodos maiores que doze semanas para que se produzam
alterações nas variáveis da aptidão física relacionadas à saúde (1,2),
entretanto já a partir da oitava semana os resultados demonstram um
incremento significante na força muscular, na endurance de força e na
mobilidade geral (3,4).
Referência bibliográfica
(1) RASO, Vagner; MATSUDO, Sandra; MATSUDO, Victor; ANDRADE, Erinaldo;
efeito de três protocolos de treinamento na aptidão física de mulheres
idosas. Gerontologia 5(4): 162-170, 1997.
(2) RASO, Vagner; ANDRADE, Erinaldo Luiz; MATSUDO, Sandra Mahecha; MATSUDO,
Victor Keihan Rodrigues; exercício aeróbio ou de força muscular melhora as
variáveis da aptidão física relacionadas à saúde em mulheres idosas? Revista
brasileira de atividade física & saúde v.2, n.3, pág. 36-49, 1997.
(3) RASO, Vagner; ANDRADE, Erinaldo Luiz; MATSUDO, Sandra Mahecha; MATSUDO,
Victor Keihan Rodrigues; exercícios com pesos para mulheres idosas. Revista
brasileira de atividade física & saúde v.2, n.4, pág. 17-26, 1997.
(4) MONTEIRO, Walace D.; AMORIM, Paulo R. S.; FARJALLA, Renato; FARINATTI,
Paulo T.V.; força muscular e características morfológicas de mulheres idosas
praticantes de um programa de atividades físicas. Revista brasileira de
atividade física & saúde v.4, n.1, 1999.
(5) BARBOSA, Aline Rodrigues; SANTARÉM, José Maria; FILHO, Wilson Jacob;
MARUCCI, Maria de Fátima Nunes; efeitos de um programa de treinamento contra
resistência sobre a força muscular de mulheres idosas. Revista brasileira de
atividade física & saúde v.5, n.3, 2000.
(6) ANTONIAZZI, Regina Maria Copetti; PORTELA, Luiz Osório Cruz; DIAS, José
Francisco Silva; SÁ, Clodoaldo Antônio de; MATHEUS, Silvana Corrêa; ROTH,
Maria Amélia; MORAES, Luiz Bragança de; RADINS, Eduardo; MORAES, Jones de
Oliveira de; alterações do VO2 máx. de indivíduos com idade entre 50 e 70
anos, decorrente de um programa de treinamento com pesos. Revista brasileira
de atividade física & saúde v.4 n.3 1999.
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