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Utilidade das doenças fatais
 

Por Maria Patrocínia Gonçalves - cininha@uol.com.br

 Uma pequena análise do texto “Utilidade das doenças fatais”
de Darcy Ribeiro, extraído do livro infanto-juvenil
Noções de Coisas, ilustrado por Ziraldo.

Pode ser considerado insensato falar da velhice desta maneira para crianças e jovens, mas não podemos negar o quanto é corajoso tratar do preço da longevidade e do impacto que pode causar à humanidade. 

Acredito que o envelhecimento e a velhice só serão transformados quando ainda na primeira idade escolar o currículo contemplar este assunto, não relegando ou fechando os olhos como se isso não fosse da nossa conta.. É fundamental que seja feita a ampliação e que se pense e se proponha uma reforma na alteração curricular, onde sejam incluídas questões relativas ao envelhecimento.

E de maneira que mostre o lado bom e o lado ruim, porque ficar velho tem lá suas dificuldades...

Um texto como este pode, à primeira vista, parecer cruel, mas pode, também, para um olhar mais atento, ser um instrumento de provocação e constatação: coloca dúvida e cutuca. O que ajuda a crescer unindo vozes à dos autores, para concordar ou discordar, mas realmente refletindo e buscando possibilidades e transformando a história:

Utilidades das doenças fatais

Os médicos e os cientistas a eles associados estão travando grandes batalhas contra as doenças fatais que ainda nos restam. Inclusive esta nova enfermidade indecente e terrível: a Aids.

Temo muito que eles vençam. Não é impossível que liquidem com o câncer, os enfartes, os derrames, o aneurisma e até com a Aids. Acabamos, muito eficazmente, no passado, com as pestes que podavam, periodicamente, o crescimento do gênero humano. Acharemos, provavelmente, remédios eficazes contra as doenças fatais que ainda sobrevivem.

Qual será a conseqüência dessa vitória médica, tão aspirada por tantas pessoas inocentes? Creio que será um desastre. Poucos anos depois, veríamos, por ai, velhos de cento e cinqüenta, duzentos e até trezentos anos, exigindo proteção e amparo para continuar vivendo suas sobrevidas insossas doadas pelos médicos.

Chegará, fatalmente, um tempo em que se terá de dar solução a esse problema do incremento exponencial dos velhos. Será, talvez, quando seu número ultrapassar cinco vezes o montante das pessoas que terão que trabalhar para sustentá-los. Imenso será, então, o trabalho só de edificação de asilos e de contratação e treinamento de legiões de médicos, enfermeiros, psicólogos, recreadores, para cuidar de um bando inumerável de velhos caquéticos, mas vivos, ou quase.

Que solução dar? Os índios Tupari resolveram um problema semelhante, que era salvar seus velhos do sofrimento da velhice, comendo-os. Quando alguém chegava à idade provecta, e já tinha dificuldades de viver, livre e independente, eles o ajudavam a morrer e depois o moqueavam, até secar toda a carne. Depois pilavam, com farinha, e consumiam num pirão, ou paçoca bem apimentada. A idéia daqueles índios era permitir que os velhos continuassem vivendo da única forma possível, que era sobreviver nos corpos de seus netos.

Ninguém hoje adotaria esse sistema. Alguém me sugeriu que a solução melhor seria de liberar as drogas, como a cocaína, a heroína, ou o crack, para os maiores de setenta anos. Assim, se daria aos velhos um ano de alegria química e a morte sobreviria natural e sem dor. Horrível, não acha?

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