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VELHO IDOSO

Por Giulio Vicini - pesquisador mentor

A mídia em geral tem fugido do uso da palavra "velho(a)" por achar que está carregada de valorações negativas. Como dizer: "Já que o velho é um produto que não presta, vamos substituí-lo pelo idoso". A título de exemplo, transcrevo um texto encontrado num folheto de um evento do dia internacional do idoso:

"Idoso é quem tem o privilégio de viver uma longa vida...Velho é quem perdeu a jovialidade. Você é idoso quando sonha...Você é velho quando apenas dorme. Você é idoso quando ainda aprende...Você é velho quando já nem ensina. Você é idoso quando se exercita...Você é velho quando somente descansa. Você é idoso quando tem planos...Você é velho quando só tem saudades. Para o idoso a vida se renova a cada dia que começa...Para o velho a vida se acaba a cada noite que termina. Para o idoso o calendário está repleto de amanhãs...Para o velho o calendário só tem o ontem. Que você idoso viva uma vida longa, mas que nunca fique velho."

Será que o idoso tem valor apenas por não ser chamado de velho? Será que a sociedade vai atribuir um valor ao velho apenas por chamá-lo de idoso?
De início, mencionarei que a palavra "idoso" não é tão bonita assim. Ela carrega um sufixo "-oso" que é característico das palavras com significado de "provido de, cheio de, provocador de...". Assim como assombroso, morboso, comatoso, vergonhoso, escandaloso, verboso, meloso etc.

Mas, analisemos rapidamente o texto acima:
Quem tem o privilégio de uma longa vida é um longevo, quiçá idoso. Quem perdeu a jovialidade não é necessariamente um velho; pode-se ser um jovem sem jovialidade (freqüentemente as pessoas confundem o termo "jovialidade" com o termo "juvenilidade"). Mas, ainda assim, um velho pode ser juvenil se for um velho "sarado", ou não? Quando sonha, você não é nem idoso nem velho; você é um sonhador. Se alguém fica dormindo o tempo todo, esta pessoa pode estar doente, qualquer que seja sua idade. Você não é ou se torna idoso por aprender, porque o aprendizado é uma qualidade do ser humano em qualquer idade. E por que mais todo velho deveria ensinar algo? Quem ensina é professor. Se a idéia era dizer que todo velho deveria educar os mais jovens, isso vale para todos os mais velhos em relação aos mais novos, em qualquer idade.
Quando você se exercita, você não é um idoso; é uma pessoa ativa, não sedentária, qualquer que seja sua idade. E quem somente descansa é um fatigado crônico, também em qualquer idade. Quem tem planos não é idoso, é alguém que tem algo a fazer e se prepara a fazê-lo de forma planejada. Quem só tem saudades é um saudosista mórbido; certamente é preciso se ter alguma idade para ter saudades, mas não precisa ser velho para isso. A vida se renova a cada dia que começa não só para os idosos, mas para todos que acordam de manhã decididos a enfrentar o seu dia e a vida acaba a cada noite que termina não para os velhos, mas sim para os que têm grave depressão.

Que você, idoso ou velho, são ou doente, viva uma vida longa (se quiser), mas que nunca fique um idoso ou velho fossilizado, sem elasticidade mental, que se obriga a achar que ser idoso é melhor ou mais bonito do que ser velho.

Temos então velhos que não o são e velhos que são idosos. Se hoje há muitas pessoas que vivem além dos 90 anos (o ex-ministro da Previdência que o diga!), podemos dizer que há velhos idosos, assim como há velhos (categorizados como tais pelas estatísticas sociais) que não são idosos (por exemplo, velhos de 60 anos).

Proponho, então, que não nos deixemos levar pelos preconceitos sociais e usemos as palavras velho e idoso indistintamente ou, ainda, usemos a palavra idoso para indicar um velho em idade bastante avançada. Chega de conotações esdrúxulas! Demos a velhice aos velhos e a idade aos idosos!

Não é simples?

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Parabéns Giulio. Gostei da clareza em relação aos termos velho e idoso que, na realidade, trata-se de dramas existenciais profundos. Como nunca tivemos tanta gente com esta idade vivendo e como a sociedade não dá o devido valor, temos horror de chegarmos lá com todos os preconceitos com os quais fomos culturalmente produzidos e erradamente continuamos perpetuando. Tenha certeza que de agora em diante pensarei duas vezes antes de chamar alguém de velho ou idoso. Valeu pela opinião e pela simplicidade com que ela foi colocada!

Enviado por Mário Luiz Matias
10/11/2004 - 15:42h
 

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