
Ciência e crença
É promissora a técnica desenvolvida por pesquisadores
norte-americanos de extrair células-tronco embrionárias humanas de
mórulas (fase em que o embrião apresenta de
8 a 16 células) e
não de blastocistos (estágio em que conta com cerca de cem células)
como normalmente se faz. O avanço é importante porque abre a
perspectiva de que se elimine o dilema ético envolvido na obtenção
dessas células.
Células-tronco embrionárias guardam a capacidade de converter-se em
qualquer tipo de tecido e, por isso, são vistas como uma promessa
para tratar uma série de moléstias degenerativas, como diabetes e
mal de Parkinson, e mesmo para criar órgãos sobressalentes. O
problema é que, para obtê-las a partir de blastocistos, é preciso
destruir o embrião - procedimento que encontra forte oposição por
parte de vários setores da sociedade, notadamente os religiosos.
A grande vantagem da nova técnica é que, se ela for mais bem
desenvolvida, poderá dispensar a destruição dos embriões. Até agora
os pesquisadores do Instituto de Genética Reprodutiva de Chicago
conseguiram produzir linhagens de células-tronco viáveis a partir de
mórulas inteiras - o que também implicou o descarte do embrião.
Existe entretanto a possibilidade de obter o mesmo resultado não a
partir de conjuntos de
8 a 16 células, mas de uma ou duas. Sabe-se que uma
mórula pode ceder um par de células e ainda assim desenvolver-se
normalmente. Essa técnica já é utilizada em clínicas de fertilidade
para averiguar a saúde do embrião antes de ele ser implantado num
útero.
A possibilidade de encontrar a cura para males que matam ou
incapacitam seres humanos justifica plenamente a pesquisa e os
tratamentos com células-tronco embrionárias. Não há dúvida, porém,
de que será melhor fazê-lo se as novas técnicas permitirem a
preservação dos embriões, de modo a aliar o avanço da medicina ao
respeito às crenças de parte significativa da população.
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Fonte: Folha de S.Paulo, 11/1, reproduzido no JC
e-mail 2685, de 11/01/2005. |