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Responsabilidade Social e Transformação da Sociedade

Patricia Branco – Pesquisadora Mentora
patricia.branco@uol.com.br

Considerar a articulação entre os temas centrais desta reflexão, é, sem dúvida, uma tarefa de grande exercício intelectual. As sociedades contemporâneas, formadas assim, por uma estrutura altamente complexa, vivem na atualidade um constante processo de mudança. As instituições, as pessoas, os recursos e os valores que sustentam suas estruturas, tornaram-se cada vez menos objetivos e tangíveis do ponto de vista da compreensão, adquirindo assim, a intangibilidade característica do processo de transformação que começaram a sentir e viver.

Se o processo de modificação da estrutura social foi gerado, sobretudo, a partir das grandes inovações criadas pela ciência e tecnologia, sabe-se, na mesma medida, que os processos de inovação e criação humana, também trouxeram para a civilização, conseqüências bastante negativas, como a guerra entre os povos e outros conflitos sociais e humanos, que não temos a intenção de detalhar neste momento.

O esforço e o trabalho da população mundial, em definir políticas públicas para a auto sustentabilidade da humanidade, é inquestionável. Tanto os países de primeiro mundo, quanto os países em desenvolvimento, vêem-se partícipes de uma “maratona” em prol da superação dos problemas sociais surgidos nas últimas décadas. A responsabilização por tais questões já não mais é atribuída apenas ao Estado, afinal o primeiro setor, assim como é chamado, vêm assumindo uma postura omissa e negligente perante a realidade social, quando muitas vezes não oferece ao menos o que é sua precípua obrigação. O Estado, nos últimos anos, menos provedor de condições básicas para a sobrevivência digna da população na sociedade contemporânea e utopicamente democrática, se coloca, na atualidade, como uma estrutura reguladora dos processos desta complexa estrutura.

As empresas no mundo, representantes do segundo setor da economia, também se incluem nesse processo de reestruturação social. Não somente interessadas em atingir seus objetivos centrais, que transitam pela produção de bens e serviços até a obtenção do lucro, começam a descobrir sua função social, além da oferta de empregos e pagamento mensal do salário aos funcionários.

O que se observa em algumas organizações deste segmento, são particularmente três questões: aprofundamento das relações entre empresários e funcionários, a partir da reinvenção das maneiras específicas de agir diariamente; construção coletiva de uma realidade que beneficia a todos e que respeita o direito das futuras gerações a uma vida significativa, onde o que realmente interessa, é a construção de um ser vivo complexíssimo, capaz de agir livremente, de sopesar argumentos a favor e contra, de tomar decisão, movido não apenas por interesses, mas também por solidariedade, por compaixão e amor, assim como afirma Leonardo Boff, em “A Ética da Vida”. E para finalizar, a motivação crescente dos empresários em alterar e inovar suas práticas de gestão empresarial, “buscando novos conhecimentos e focos, novos parceiros e tecnologias, além das formas inovadoras de gerenciamento”, assim como Almos Makray nos descreve em seu artigo: O conceito de responsabilidade pelo todo.

Ao tratarmos desta questão e, considerando a necessidade empresarial de inovar constantemente para gerar sustentabilidade à instituição, detecta-se como ponto chave do processo, compreender na prática, que a capacidade inovadora e empreendedora das instituições depende, sobretudo, da formação profissional, ética e humana de seus representantes. Nas palavras de Oded Grajew, “as empresas, estarão cada vez mais dependentes das pessoas. Seu sucesso e seu fracasso estão diretamente relacionados ao desempenho das pessoas.”

O acesso a uma diferenciada formação profissional, ética e humana conduz o empresário à consciência de que é necessário e possível estabelecer uma rede de relacionamentos sadios dentro e fora da empresa no intuito de garantir a produção e disseminação de idéias, que posteriormente tornam-se valores sociais incorporados à vida das pessoas nas comunidades e da sociedade em geral.

Ao falar sobre responsabilidade social e ao exercê-la em seu sentido amplo, muito além da filantropia, a empresa se transforma em várias dimensões e apresenta para si e para a comunidade e sociedade em geral, um novo comportamento frente a várias questões. “E por meio da mudança do comportamento empresarial, a empresa pode promover mudanças sociais que levará o país a uma prosperidade econômica e social justa”.

A prosperidade econômica e social justa de uma nação é o elemento chave para o alcance da paz comunitária local e global. E a condição necessária para o nascimento da paz, a meu ver, é a existência do diálogo autêntico entre pessoas da mesma comunidade e de comunidades distintas. Já, na ausência do diálogo autêntico, assim como nos observa Amnéris Maroni, “as pessoas são artificiais, vivenciam papéis estereotipados, repetitivos, absolutamente não criativos. Vivenciam profunda solidão, sentem-se despersonalizadas e massacradas por um mecanismo gigantesco, onde cada uma é peça intercambiável. Para criar, é preciso abrir passagem para o Deus Eros, o deus do amor, da junção, da união, da multiplicação. É preciso abrir passagem para a idéia de que cada um de nós é insubstituível e, quero enfatizar: cada um de nós é insubstituível tanto nas organizações, sejam elas quais forem, como na vida.”

O diálogo é prática fundamental do processo de transformação humana e social. Através do diálogo, os homens se encontram para transformar a realidade e progredir. Embora no processo de conhecimento haja uma dimensão individual, essa dimensão não é suficiente para explicar todo o processo de conhecimento. Precisamos do outro para conhecer, de fato, os processos que vivemos e, neste sentido, o diálogo resultante da interação pode ser considerado a base sólida desse processo. E, na minha opinião, a autenticidade do diálogo entre pessoas e o desmascaramento humano essencial para a construção de idéias inovadoras ou renovadas sobre o conceito de responsabilidade social, precisam acontecer, sobretudo, na universidade.

A ciência, como ingrediente indispensável da paz, faz as fronteiras do conhecimento e da inovação avançarem, ampliando assim, o progresso econômico do mundo e definindo novas formas de civilização e civilidade entre os seres humanos.

É por isso que, a universidade brasileira, considerada espaço privilegiado de debates bem fundamentados, questionamentos críticos e proposições alternativas para a compreensão de questões locais e globais, deve se abrir para a comunidade e incorporar a cultura das parcerias com outros espaços de conhecimento. A comunidade acadêmica não pode mais se fechar em si mesma, nem assumir a histórica postura de auto-suficiência, como se pudesse, na solidão, resolver todos os problemas da realidade social. Caracterizada pela diversidade, que a faz assumir o status de universo do conhecimento, a universidade deverá aprender a ser menos autoritária e mais solidária, se quiser ser reconhecida como espaço democrático de diálogo e construção do conhecimento. Afinal, o critério básico que define se a instituição se apresenta à sociedade como democrática ou não, está baseado sobretudo no tipo de relações humanas que nela são estabelecidas e não apenas na diversidade que a constitui.

Se as relações pautarem-se em princípios éticos de solidariedade, onde o que interessa realmente é a construção coletiva do conhecimento, poder-se-á dizer que a universidade já está caminhando para a sustentabilidade de suas idéias e projetos, beneficiando não somente o grupo de pesquisadores e a comunidade acadêmico-científica, mas fortificando, principalmente, as organizações sociais, tanto as governamentais quanto as não governamentais e privadas, interessadas em desencadear ações voltadas à transformação da sociedade.

Neste processo, onde o ser humano é levado a construir referenciais de mundo pautados na maturidade e nas experiências de vida, a educação passa a se constituir num forte instrumento de transformação social, na chave que abre a possibilidade de transformar o homem naquele que conhece, naquele que têm liberdade para escolher, naquele que é construtor de si mesmo e de sua comunidade, a partir, sempre, de uma  ação reflexiva responsável e, pautada na solidariedade.

É por esta razão, que todas as fases da vida humana precisam ser muito bem cuidadas. Valorizando e respeitando integralmente os direitos de cada uma das fases da vida do ser humano: as crianças, os pré-adolescentes, os adolescentes, os adultos e os idosos, tanto em ações por grupo etário, como pela via das práticas intergeracionais, devem aprender a ser responsáveis, cada um a sua maneira, pelos processos de produção, reelaboração e transmissão dos bens culturais, valorizando o seu saber como uma das maneiras de se preservar a identidade cultural de nossa sociedade.

Fonte das Fotos: Google (www.google.com)

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