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Relatos: a memória viva de São Paulo[1] Vera Brandão –
pesquisadora mentora No mês de setembro apresentamos,
neste espaço, o trabalho desenvolvido junto aos idosos de 6 bairros da cidade
no projeto: SÃO PAULO 450 anos. MEMÓRIA VIVA – CIDADANIA ATIVA[2].
A partir do mês de outubro, a cada mês, daremos voz aos idosos que resgataram e
ressignificaram a própria história e a memória do bairro onde nasceram e/ou
construíram suas vidas. Lembranças do meu
Bairro - Vila Carrão[3]
Eu moro no bairro do Carrão há 40 anos. Quando
cheguei tive muito medo de comprar meu terreno na Praça Paulo Cunha (na época
era praça sem nome), pois tudo era brejo. Até para eu ir trabalhar precisava de
bota de borracha. Não havia luz elétrica, precisávamos emprestar do vizinho,
assim como a água. Deste modo Alfia, que nasceu na Sicília, onde passou
a infância, começa seu relato sobre o bairro de Vila Carrão, dizendo
ainda que: Foram tempos de muito sacrifício. Em frente da minha casa
havia um pequeno córrego, onde saía o esgoto, e várias vezes as crianças e até
os adultos, em dias de chuva ou por descuido, caiam nele. Inclusive meu filho.
Nós, juntos com os vizinhos, montamos a Praça Paulo Cunha.
Nós a construímos! Essa é a mesma lembrança do bairro trazida
por Janete que veio da Bocaina, estado de São Paulo, em 1955. Ela também
recorda das dificuldades e... como não tinha esgoto, mas fossa, às vezes a sujeira saía na rua,
naquelas valetas cheias de mato e sapos. Lembra do “Poeirinha”, o único meio de
transporte do bairro:
...nós tínhamos de levantar de madrugada para poder chegar na
hora certa no trabalho. Descíamos na rua Vilela e lá pegávamos os bondes que
nos levavam até a cidade, ou bairros próximos. Aquí no Carrão tinham indústrias
muito grandes: Guilherme Giorge, Minerma, Tecelagem Santa Terezinha.. e outras
menores de calçados, roupas etc. Na época, o leite e o pão eram entregues pelas
carroças, puxadas por cavalos e, além do pão, vendiam peixes, verduras, frutas
e ovos... naquele tempo não tinha mercados. Tinham alguns armazéns pequenos
como os do Sr. Pedro Nicolau, do Sr. Taico e outros. Tinha também os do governo
– tipo umas cabanas – que se chamavam SAPS ou COAB e vendiam óleo, arroz,
feijão e açúcar. As lembranças de Ana, hoje com 88
anos, são mais antigas:
Vim morar no Carrão em 13 de janeiro de 1938... na estrada
de Itaquera 269, atual Av. 19 de Janeiro. Na época não havia iluminação, meios
de transporte... apenas algumas chácaras nas quais se cultivavam verduras,
legumes e frutas. Relaciona os nomes de alguns dos antigos
proprietários dessas chácaras, incluindo Felisbina Ferreira e João Gonçalves
Teixeira, que foram homenageados com seus nomes em ruas do bairro. Entre esses,
ainda destaca: O principal festeiro da época era Pedro Malaquias, que
sempre ficava responsável pelas festas juninas, e hoje é o nome da rua onde
moro.
Na região havia uma olaria, tinha o nome de olaria do Cosmo,
onde várias famílias trabalhavam. Outro relato interessante é o de Carmina
que veio para o bairro em 1950, em um local com poucas casas e uma plantação
de eucalíptos. Ela conta:
Só colocamos energia elétrica em 1952, sendo trazido um
poste de eucalípto, por carro de boi. Ficamos muito tempo com a rua sendo de
terra... O transporte era feito por uma linha apenas, O Poeirinha..., depois
vieram outras linhas. Célia inicia contando
as inúmeras dificuldades enfrentadas por seus pais, desde o início de suas
vidas de casados, até o estabelecimento da família, no bairro, na década de 40,
vinda de Presidente Alves no interior paulista. Um amigo da família havia
construído uma casa
...era muito pior que no interior, sem nenhuma estrutura,
isolados e sem vizinhos. Só tinha pasto, vacas, cavalos... faltava energia
elétrica, água encanada... era água de poço. Preocupado, meu pai procurou
alugar uma casa em lugar bem perto... nas proximidades da 31ª Delegacia da Vila
Carrão... ficava a uma quadra depois da rua Coronel Marques e Cantagalo. Lembra também de lugares significativos
para os moradores do bairro e destaca:
Na rua Zambezé tinha um clube de futebol dos jovens do
bairro – Reunidos de Manchester. A sede era no salão da família de José Augusto
Ribeiro. Os jogos eram no Sete Campo, hoje praça Haroldo Daltro. Neste clube se
reuniam os políticos para fazer campanha nas eleições em troca de melhorias
para o bairro. Na parte de baixo do nosso bairro tem, até hoje, um clube de
malha que também fez muitos movimentos para o progresso do bairro. Uma das atividades propostas aos
participantes desses encontros, para recuperar e registrar a memória do bairro
foi um passeio por vários de seus pontos mais significativos. Célia volta,
então, a narrar as lembranças suscitadas nesse dia:
Seguimos até a rua Baquiá onde teve um casarão da família
real – a casa de fazenda de D. Pedro II... Subimos a Zambezé e chegamos a Praça
Manoel Nunes, um grande pioneiro. Veio mandado pela família de Portugal para
administrar os terrenos da Vila Manchester. Esses terrenos tinham cultivo de
chá e depois foram loteados. Meu pai, quando comprou o terreno, teve que cortar
os pés de chá para começar a construir a casa. Mas ainda pegávamos chá nos
terrenos vizinhos que demoraram a ser vendidos. Assim como Célia, foram muitas as
dificuldades enfrentadas por Encarnación e Concepción, vindas no
início dos anos 50 de Granada, Espanha, agravadas pelo desconhecimento
da língua. O pai tinha uma carroça puxada a cavalo e negociava ferro velho, o
que não era suficiente para o sustento da família. Diz a primeira:
Eu sabia bordar, mas ninguém dava valor. Em frente a minha casa
morava um senhor que tinha uma fábrica de calçados aqui no Carrão.... a Arco
Íris... pedi que me desse um serviço... aprendi prespontar calçados. Mas eu
tinha muito medo, porque não conhecia ninguém e era mato fechado (onde é) a Conselheiro Carrão.
Concepción que chegou algum tempo depois,
também enfrentou dificuldades, mas já teve a ajuda da irmã, indo trabalhar na
mesma fábrica que esta. Mas
completa: Em terras estranhas o
que passamos...toda a família. Vemos nestes dois últimos relatos as
dificuldades, os medos e angústias, “estranhamentos”, enfrentados pelos
pioneiros de um bairro, hoje, tão importante e desenvolvido. A migração e a
imigração trazem um desconforto semelhante, porque se deixa para traz lugares e
pessoas, nos quais se enraizavam as identidades de cada um, o lugar de origem,
para a aventura de refazer a vida em outra cidade, outro país, o lugar de
destino. Constrói-se então, penosamente, outro quadro de referências que deverá
balizar o futuro. Interessante ressaltar, neste ponto, como
a rememoração de um tema determinado – no caso a história do bairro por meio
das narrativas de seus antigos moradores, vem entrelaçado com outras
lembranças, mais íntimas, e que não podem ser narradas sem uma necessária
contextualização na história familiar e social mais ampla. São as lembranças
individuais misturando-se às coletivas sendo, no entanto, únicas, como
filtradas pelo olhar interno, a vivência de cada um. As histórias se
complementam, mas veremos, ao longo dos relatos, como predomina um sentimento,
natural, de exclusividade e valorização em relação às próprias lembranças. Morando no bairro há mais de 35 anos, e
tendo criado aqui seus filhos, Josefa conta as dificuldades iniciais
para construção de sua casa, e como na época não era comum que as mulheres
ajudassem na pintura, colocação de vidros, etc... porém para terminarmos a construção da casa eu ajudava meu marido nestas tarefas
e as pessoas que passavam na rua ficavam olhando, curiosas, pois não era uma
coisa natural. Relembra ainda o período escolar dos
filhos e as festas do bairro. Meus filhos estudavam na Escola Marcílio, que competia de
forma saudável com a Escola Infante, tentando provar qual era a melhor escola
da região... Havia várias atividades como festas, desfiles, bailinhos, etc e...
ficávamos tranqüilos quando nossos filhos participavam dessas atividades, pois
estavam dentro da escola e não corriam perigo. Todos os anos a escola promovia
as Festas do Guaraná e Junina. Havia ainda o desfile de 7 de setembro ou do dia
da bandeira, e íamos assistir... na Avenida Carrão... inclusive, desfile de
Carnaval.
Lembra também das igrejas do bairro –
Santa Izabel e São João – onde casaram seus filhos, e a Santa Mariana onde sua
neta, também nascida no bairro – na Maternidade do Carrão – fez sua primeira
comunhão. Morando no bairro desde 1954, Julieta
lembra as agruras do início de vida de casada, na Vila Aricanduva, até que com
muito sacrifício...
compramos
um terreno na Vila Carrão, localizado na rua Projetada, hoje Victorio Roque,
nome dado em homenagem a um dos moradores mais antigos da rua. Conta da falta de luz, água e condução, uma
séria dificuldade para todos os moradores...
com muita frequência tínhamos
problemas de condução e se não fossem os caminhões – os pau-de arara – estávamos
perdidos. Isto sem falar nos dias de chuva e nas manhãs frias, pois nessa época
a cidade fazia jus ao título de São Paulo da Garoa. A cidade da garoa também aparece no relato
de Janete que diz:...
naquela época garoava todos os dias
Voltamos ao relato de Julieta que conta as
dificuldades da época em que seu único filho, Cláudio, era criança e ela e o
marido tinham que trabalhar: Conseguimos uma vaga no Externato Espírito Santo, localizado
até os dias de hoje na rua Tuiuti, no Tatuapé... Silvio era quem levava nosso
filho... (ele) tomava o onibus Carrãozinho, descendo no ponto final, caminhando
até o Externato... Quando eu saia do trabalho às 13.30hs, tomava o bonde Penha para
descer na rua Tuiuti, apanhava meu filho e seguia caminhando pela rua Vilela
para tomar o ônibus de volta para casa. Apesar dos sacrifícios tenho saudades
da Vila Carrão de antigamente. Do cinema, dos parques de diversões e até mesmo
da segurança que tínhamos. As lembranças de Nair também
contribuem para o “retrato de época” do bairro Vila Carrão, no final dos anos
40. Ela relata: Compramos essa casa em 1947... minha rua chamava 13 e agora
Nunes Balboa... os lixeiros passavam duas vezes por semana. Era uma carroça com
dois burros. Eu levava meu filho na Biblioteca e era tudo brejo... uma terra
preta. Ele estudou no Infante Dom Henrique e, quando chovia, era um Deus nos
acuda! Era barro para todo lado. Ele levava 2 pares de sapato para trocar... eu
trazia o sujo. Na estrada do Carrão tinha muitas valetas e o ônibus passava
de hora em hora.... o dono era o “seu” Cabral. No ponto final do Carrão tinha
um rio e uma ponte de madeira. Canalizaram o rio e agora chama-se rua Taubaté.
Thereza veio para o bairro
nos início dos anos 50. Já casada e com uma filha de 6 meses recorda também as
dificuldades que o bairro enfrentava à época.. Ela conta que
Igreja, só a Sagrado Coração, na
vila Formosa e... nos domingos,
reuníamos alguns vizinhos e íamos a pé assistir a missa. Minha segunda
filha .... nasceu em 1955, na maternidade Nossa Senhora de Fátima na Av.
Conselheiro Carrão... A primeira escola que minhas filhas frequentaram era de
madeira onde hoje é a rua Profº José Alves Camargo. Agora o bairro está
desenvolvido, temos tudo o que precisamos... Assim se passaram 51 anos de Vila
Carrão e... meu marido e eu completaremos este ano 52 anos de casados. Thereza e Yaeko, outra participante,
lembram também da antiga farmácia de Dª Laura, na rua Manilha, a quem recorriam
em casos de doenças, antes mesmo de ir ao médico. Elas dizem que ela era uma
pessoa muito boa, que ajudava quem não podia pagar os medicamentos. O relato de Yolanda traz, de forma pontual, as transformações de
alguns pontos do bairro:
Faz 48 anos que eu moro na Vila Carrão... muitas coisas
mudaram.... em frente da minha casa era brejo e o Centro Educacional da Vila
Manchester era uma lagoa bonita e limpa. Na rua Lucinda Gomes havia um caquizal
muito bonito... Onde fica a Av. Carrão era um buraco.... Parecia que os bairros
ficavam mais próximos... antes dava para ir até o bairro da Penha andando....
Muitas coisas mudaram. Antes havia mais árvores e o ar era bem mais puro... a
paisagem foi mudando, o bairro foi crescendo... e continua crescendo... Um grupo de imigrantes, e descedentes
japoneses, que tem a AMAMI como referência, também participou do projeto de
recuperação das memórias da Vila Carrão. Teiko nasceu no Japão e
veio para o Brasil aos seis anos, por causa da guerra com a China, mas é com a
recordação do 4º Centenário de São Paulo que ela inicia seu relato:
Em
Teiko e Massukite Nishizawa (casamento) O marido de Teiko, Massukite, também
participou do projeto e, assim, suas lembranças se complementam. Ele diz:
Naquela época, da rua Angical avistava-se a Vila Dalila, por
ser um bairro alto e não havia nenhuma casa. Era tudo campo. A margem do rio
Aricanduva era tudo brejo, não passava nem carroça. Jamais se imaginou que lá
se tornaria Avenida Aricanduva. Na rua Biguaçú, onde hoje é a
Concessionária.... ofereceram o equivalente a $ 0,50 de hoje pelo metro
quadrado do terreno. Eu não aceitei e ninguém aceitou (nem de graça), pois, em
dias de chuva aquele local ficava alagado pelas águas que vinham das ruas altas. Apesar das dificuldades o casal criou e
fez estudar os 3 filhos, motivo de muito orgulho, expressos nas palavras de
Theiko: Eu sou muito
feliz em ter filhos honestos e trabalhadores. O progresso do bairro, observado e
vivido por todos os narradores, é assim expresso por ela: Em 1975 começou a funcionar o metrô Tatuapé e assim, a Vila Carrão foi beneficiada. O terminal Carrão com seus troleibus indo para os bairros mais distantes e o aumento do número de ônibus na Av. Conselheiro Carrão. Os idosos com mais de 60 anos passaram a tomar ônibus gratuitamente. As lojas da avenida... ficaram mais bonitas porém, devido a construção do shopping Anália Franco, parece-me que os pequenos proprietários do bairro têm se mantido com certa dificuldade.
Teiko e Massukite Nishizawa Yaeko, hoje com 82 anos,
também nasceu no Japão e veio para o Brasil em 1934. Trabalhou na lavoura no
interior do Estado e conta quando veio para o bairro: Vim morar no Carrão em 1959 porque já tínhamos familiares.
Compramos um bar na rua Manilha e fiquei oito anos nessa vida... acordava às 4
horas da manhã, e nesse período meus filhos puderam estudar. Depois vendemos o
bar. Há 10 anos sou presidente na ACREC e, como voluntária, trabalho em prol
das entidades sociais. Eu represento as mulheres japonesas da Vila Carrão na
Associação Beneficente Japonesa de São Paulo. Trabalho como voluntária na
AMAMI. Moradora no bairro desde de 1978, Kinuko
também veio do Japão para trabalhar nas lavouras de café da região da Mogiana.
Depois da morte da mãe teve que cuidar dos irmãos até seu casamento, arranjado
pelo pai. A partir daí morou durante 20 anos na região de Registro, plantando
chá, banana e abacaxi. Ela conta: Em 1978 vim morar no Carrão, pois aqui tinha muitos
feirantes e costureiras. Massukite volta para relatar a importância
da ACREC para a colônia japonesa do bairro. Diz ele: Em 1954, um grupo de jovens japoneses de Vila Carrão criou o
Undoôkai, uma série de gincanas poli-esportivas realizadas em um campo aberto,
reunindo famílias para se divertirem. O undoôkai era realizado no parque Maria
Luiza, quando lá ainda não havia uma casa sequer. Em 1956 foi criada a ACREC –
Associação Cultural e Recreativa e Esportiva Carrão. Esta associação de
senhores japoneses não tinha sede própria e se reuniam num barracão localizado
no final da rua Dentista Barreto. Relata ainda que a construção da sede
começou em 1966 mas só foi concluída em 1970 graças aos esforços dos
associados. Hoje congrega 400 famílias e oferece várias atividades
sócio-recreativas. Complementa: Há alguns anos muitos descendentes de japoneses têm ido ao
Japão a procura de trabalho para fazer economia e voltar para o Brasil. A ACREC
oferece curso de língua japonesa tanto para o “dekassegui” (pessoas que vão ao
Japão procurar trabalho), como para quem apenas deseja conhecer a língua de
seus ancestrais. Massukite presta também um interessante
esclarecimento a respeito dos imigrantes japoneses que vivem no Carrão:
- existe outra associação de
japoneses, provenientes de Okinawa, independentes da ACREC. O grupo de Okinawa, apesar de convidado,
não participou do projeto. Mas na festa de encerramento Yonésio,
representando o grupo, deixou registrado seu depoimento: Eu nasci em Okinawa e em fevereiro de 1956, e quando tinha
19 anos vim para o Brasil... direto para Vila Carrão. Viemos eu, meus pais e
cinco irmãos pois tínhamos família que morava aqui e porque queríamos morar em
um lugar maior. Okinawa é muito pequeno. A presença dos Okinawa no bairro...
ajudou a desenvolve-lo através do trabalho de costura, eles ensinaram os
turcos. Os Okinawa sempre foram muitos solidários, com os outros e entre eles
mesmos. Eu ajudava a todos consertando máquinas de costura, e fiz muitas
amizades com libaneses, turcos e gregos (do Bom Retiro). Nunca fui a escola e
aprendi a fazer ferramentas por mim mesmo, nunca ninguém me ensinou nada. Eu
uso meu próprio material para a realização dos jardins. Yonésio criou, em 2002, no Centro Esportivo
da Vila Manchester, um Jardim Oriental, onde cultiva bonsais na pedra. É um
trabalho, segundo ele, muito raro e caro, com uma técnica que só ele possui.
Diz que no bairro existe também uma Associação Yokinawa onde há alguns anos,
ele implantou bailes para aproximar as pessoas. Completa dizendo que: - na
Vila Carrão existe mais ou menos 800 famílias de okinawa. Outro
depoimento feito nos mesmos moldes do anterior é o de Diva, cujos pais
vieram de Okinawa para o Brasil em 1936. Depois de morar muitos anos em Lins,
vem para o Carrão em 1953 com os pais e irmãos. Viemos
todos para o Carrão, pois já tinham famílias de Okinawa no bairro. Quando meu
pai era solteiro ele trabalhou nas Filipinas e aprendeu lá a atividade de alfaiataria.
Então, quando chegou aqui, ele começou a trabalhar com costura, pois já tinha
um amigo que desenvolvia esta atividade com os comerciantes do Brás. Ela conta
também que costurava durante o dia e fazia curso técnico de contabilidade à
noite. Trabalhou em empresas e depois foi feirante. Relata ainda: Hoje
faço, na minha casa, um trabalho voluntário... construí um parquinho para
atrair as crianças da região... na garagem montei um tipo de escolinha
(onde)... além de aprenderem a língua japonesa, recebem orientações sobre boas
maneiras, respeito aos pais, aprendem orações, tudo baseado na Seicho- no-ie. É
muito gratificante isso que faço, e me sinto muito feliz. O caderno
de memórias do grupo, que se constituiu na Vila Carrão, está ainda repleto de
outras informações sobre o bairro, mescladas às lembranças dos narradores dos
tempos da infância e juventude. Músicas, poemas, brincadeiras, fotos... bailes,
amores, filhos... alegrias e tristezas, dores e realizações. Trechos das vidas
vividas, entrelaçadas, relatadas com emoção e a alegria de vê-las como parte da
história viva da cidade.
[1] O que está em itálico é a palavra
dos narradores. Em letra comum as ligações e comentários feitos por mim, Vera
Brandão. O nome dos narradores está em negrito.
[2] Projeto desenvolvido em parceria:
PMS/Cogest- NEPE/PUC-SP- Novartis Biociências. [3] Apoio local: AMAMI através de Vera Lúcia Mariano, interlocutora do Programa Saúde do Idoso- PMSP/SMS/COGest. Coordenação e Execução: Ivone Ragozzini (fonoaudióloga) e Maria Eloisa Demari (psicóloga) UBS: Vila Carrão. Supervisão do Projeto: Vera Brandão NEPE/PUC-SP |
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