
Brasil testará célula-tronco em
1.200 pessoas
Quarenta centros
participarão do maior estudo já realizado para
avaliar tratamento para doenças do coração
Por Evandro Éboli
O ministro da Saúde, Humberto Costa, anuncia oficialmente, hoje, no
Instituto Nacional de Cardiologia de Laranjeiras, no Rio, o início
da maior pesquisa já realizada no mundo envolvendo o uso de
células-tronco maduras no tratamento de doenças cardíacas.
O Ministério da Saúde irá selecionar 1.200 pacientes cardiopatas e
metade deles será submetida à terapia com células-tronco e os outros
600 ao tratamento tradicional. As células a serem utilizadas no
estudo serão retiradas de tecidos do próprio paciente, como a medula
óssea.
A experiência será feita em pacientes que apresentam quatro tipos de
doenças do coração: infarto agudo do miocárdio, doença isquêmica
crônica do coração, cardiomiopatia dilatada e cardiopatia decorrente
do mal de Chagas.
Os 1.200 pacientes serão divididos em quatro grupos, com 300 pessoas
cada, de acordo com cada tipo de problema. O paciente cardíaco
interessado em participar do estudo deverá procurar, a partir de
março, um dos 40 centros envolvidos na pesquisa, como hospitais
universitários e faculdades de medicina localizados em dez estados.
O Instituto de Cardiologia de Laranjeiras será o responsável pela
seleção dos pacientes e por todo o acompanhamento do estudo. Os
pacientes não poderão escolher a qual tratamento serão submetidos,
se o tradicional ou o com célula-tronco. Esse método, chamado duplo
cego, é o usado nas pesquisas mais avançadas por dar mais
credibilidade ao estudo e também para não influenciar o paciente,
que pode achar que está melhorando pelo simples fato de receber uma
terapia nova.
O tempo de recuperação do paciente submetido à terapia da
célula-tronco é curto, apenas 72 horas. Após a cirurgia, ele será
observado durante três meses. O objetivo do Ministério da Saúde,
comprovada a eficácia da terapia celular, é implementar o tratamento
em toda a rede do Sistema Único de Saúde (SUS). Humberto Costa
afirmou que o propósito é levar a terapia com célula-tronco para
toda população.
— Se comprovada sua eficácia, o objetivo é massificar esse tipo de
tratamento. Os primeiros estudos já mostraram que não há rejeição a
essa terapia, que não causa efeito colateral — disse o ministro. Ele
afirmou que, dependendo do resultado, as cirurgias cardíacas com
célula-tronco podem ser adotadas na rede do SUS antes mesmo dos três
anos previstos para conclusão da pesquisa.
O Brasil é pioneiro nesse tipo de estudo. Porém, o número de
pacientes tratados é muito pequeno e mais pesquisas são necessárias
para comprovar a eficiência e a segurança. As quatro doenças do
coração escolhidas pelo Ministério da Saúde evoluem para a
insuficiência cardíaca grave, mal que atinge cerca de 4 milhões de
pessoas no Brasil.
A estimativa do governo é que, comprovada a eficácia do uso da
célula-tronco no tratamento de doenças do coração, cerca de 200 mil
vidas poderão ser salvas nos próximos três anos. Outra vantagem
dessa terapia é a possibilidade de reduzir os gastos com consultas,
internações, cirurgias e transplantes cardíacos no SUS. Em 2003,
esses gastos chegaram a R$ 500 milhões. A Comissão Nacional de Ética
em Pesquisa aprovou a realização do estudo na semana passada.
_____________________________
Fonte: O Globo, 2/2/2005, reproduzida no JC e-mail
2700, de 02/02/2005. |