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Sem tratamento ou
inseminação, mulher
de 65 anos dá à luz
Por Sílvia
Freire
Depois de uma gravidez tranqüila, a agricultora Maria
Quitéria da Silva, 65, deu à luz na quinta-feira --por parto
normal-- um menino de
3,25 kg em
Arapiraca (AL). Foi a quarta gravidez natural dela --sem tratamento
ou inseminação artificial-- depois dos 55 anos de idade.
Maria Quitéria e o bebê, que ainda não tem nome, tiveram alta na
sexta-feira, do Hospital Regional de Arapiraca. Ela deixou o local
caminhando. Em Maribondo (83 km de Maceió), município onde a agricultora mora com uma
filha de quatro anos, não tem maternidade.
Os dois filhos mais velhos, segundo ela relatou aos médicos, foram
entregues para adoção. Há cerca de 15 dias, o marido dela morreu em
decorrência de complicações hepáticas. Quitéria contou que a família
sobrevive da ajuda de vizinhos do pequeno sítio onde mora.
O médico obstetra Ulisses Pereira, diretor do hospital, disse que
Maria Quitéria tem problemas de raciocínio e é portadora de uma
deficiência mental leve. Ela afirmou, segundo ele, que vai ficar com
o bebê.
Médicos
A médica Tânia Regina Schupp Machado, especialista em gravidez em
idade materna avançada, disse que casos como o da agricultora são
muito raros. "Normalmente, a mulher entra na menopausa (deixa de
ovular) entre 50 e 55 anos de idade. Após os 50 anos, a fertilidade
é muito baixa e a probabilidade de engravidar, pequena", disse
Machado.
A médica já acompanhou mais de 400 casos no ambulatório
especializado em gestantes acima de 40 anos do Hospital das Clínicas
de São Paulo. Segundo ela, se for feito um bom acompanhamento médico
durante a gravidez, a gestação em mulheres acima de 40 anos é
normal.
O médico Everaldo Pereira, que fez o pré-natal de Maria Quitéria, em
Maribondo, disse que a gravidez só foi descoberta quando ela já
havia completado o sexto mês de gestação.
Um agente de saúde do PSF (Programa de Saúde da Família), que fazia
visitas periódicas à casa da agricultora, percebeu um inchaço no
abdômen e a encaminhou para exames. "Pensávamos que fosse outro
problema como um mioma (tumor), uma cirrose ou vermes. Quando foi
feito o ultra-som, estava lá o meninão", disse o médico Everaldo
Pereira. Segundo o médico, a agricultora disse não saber que estava
grávida e não sentia nada de anormal.
A enfermeira Adriana Cabral Santos, que integra a equipe do PSF que
atendeu Maria Quitéria, disse que eles não acreditaram quando ela
disse ter 65 anos. "Duvidamos que ela tivesse 65 anos, mas ela
trouxe um registro de nascimento dizendo que ela nasceu em 1940",
contou a enfermeira.
Segundo o médico Ulisses Pereira, o único documento que ela disse
ter é uma certidão de nascimento expedida apenas em 1986. Pelo
documento, a agricultora nasceu mesmo em 1940. O médico não descarta
a possibilidade de ter havido um erro. No entanto, tanto o médico
que fez o parto quanto o que atendeu a agricultora no pré-natal
disseram que ela aparenta ter mais de 60 anos.
Apoio
O prefeito de Maribondo, Cleovan Florentino de Almeida (PSB), disse
que um irmão de Maria Quitéria, conhecido como Zé Pequeno, 60,
confirmou a idade da irmã. Zé Pequeno tem uma pequena barbearia no
centro da cidade e acolheu Quitéria depois dela ter deixado o
hospital com o filho.
O prefeito prometeu dar uma casa para a agricultora morar com os
filhos e auxiliar na alimentação das crianças. A filha mais velha,
segundo ele, já freqüenta uma creche municipal.
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Fonte: Agência Folha, Folha UOL,
25/02/2005. |
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