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Estudo com célula-tronco recruta voluntários Clarissa Thomé e Cristina Amorim Ministério da Saúde procura 1.200 pessoas com problemas de isquemia crônica, enfarte agudo do miocárdio, miocardiopatia dilatada ou doença de Chagas para participar de segunda fase da pesquisaO Ministério da Saúde começa a selecionar no fim do mês 1.200 voluntários para estudo com células-tronco do tecido adulto para tratar cardiopatias. O projeto vai atender pessoas que apresentam quatro tipos de problemas no coração: enfarte agudo do miocárdio, isquemia crônica, miocardiopatia dilatada e doença de Chagas. Ele será coordenado pelo Instituto Nacional de Cardiologia Laranjeiras INCL, no Rio, terá quatro centros-âncora e abrangerá 33 centros espalhados pelo País, em 10 Estados e no Distrito Federal. O estudo faz parte de um projeto do ministério lançado no ano passado que visa confirmar a eficácia e a segurança dos tratamentos, a fim de adotá-los pelo Sistema Único de Saúde SUS. Segundo o governo federal, a intenção é investir agora na ciência para economizar, no futuro, em internações. Os voluntários farão parte da segunda fase de experiência, que pode levar dois ou três anos, e serão divididos em grupos de 300 pessoas - um para cada doença. Todos passarão pelo tratamento convencional, mas apenas metade receberá o transplante de células-tronco. O resto ficará no grupo de controle. Nem os médicos que acompanharão os pacientes saberão quais foram submetidos à terapia. "É muito comum em medicina o efeito placebo. Ao se deparar com uma nova terapia, o estado psicológico do paciente melhora e o quadro de saúde também. Com o estudo duplo-cego, em que médico e paciente não sabem quem recebeu a célula-tronco, queremos afastar o aspecto psicológico", explica o coordenador da pesquisa, Antônio Carlos Campos de Carvalho, chefe do Departamento de Ensino e Pesquisa do INCL. Os interessados em participar da pesquisa podem se inscrever no site do INCL (www.incl.rj.saude.gov.br) e clicar em Terapia com Células-Tronco - Veja as Instruções para Cadastramento. Ou pelo telefone (0xx21) 2205-5422.
Wagner Souza Lima,
37 anos, foi um dos primeiros a se inscrever. Dez anos atrás, ele
descobriu que sofria de miocardiopatia dilatada. A doença faz o
coração crescer a ponto de não conseguir bombear sangue para todo o
corpo. "É uma doença progressiva, limitante, que me obriga a tomar
cinco ou seis remédios diferentes por dia", diz Lima. "Quatro
médicos disseram que só o transplante me salvaria. Estou muito
esperançoso." Apenas pequena parcela dos pacientes tem o perfil procurado pelos cientistas. Mesmo assim, muitas pessoas têm procurado o serviço. No Incor, uma conta de e-mail (celulastronco@incor.usp.br) foi criada há alguns meses para suprir a procura dos interessados. Porém, a expectativa dos pacientes tem criado desconforto entre os médicos, pois a terapia ainda é incipiente. Células terão de ser 'domadas' Médicos e cientistas terão de domar as células-tronco embrionárias antes de iniciar os testes nos pacientes. A maior dificuldade dos pesquisadores é controlar o caminho que estas células fazem no organismo e o tipo de tecido em que elas se transformam. A expectativa mais otimista é de que as pesquisas iniciais durem cinco anos. "Muita coisa precisa ser feita. Ainda vamos ter de testar em animais, voltar para a bancada do laboratório e novamente experimentar em cobaias. Não é imediato", diz o cardiologista Hans Fernando Dohmann, que estuda terapias com células-tronco adultas há cinco anos. Dohmann diz que os pesquisadores terão de aprender a "dominar" as células embrionárias. "Nas pesquisas internacionais há uma porcentagem significante de células embrionárias que se transformam em tecidos diferentes do que se quer", afirma. O médico coordena três linhas de pesquisa com células-tronco adultas, numa parceria do Hospital Pró-Cardíaco, onde trabalha, e a Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ. O primeiro trabalho, com 26 pacientes que sofriam de cardiopatia crônica, mostrou que 19 se recuperaram, 3 morreram e 2 não tiveram mudança do quadro clínico. "É um número excepcional. O coração não se recupera por medicina convencional", avalia. O representante comercial Nelson Águia, 71 anos, foi o primeiro paciente da pesquisa. Ele tinha 70% do coração necrosado, após sofrer dois enfartes e colocar cinco pontes de safena e duas mamárias. Hoje, seu coração está recuperado. Ele voltou a trabalhar e a praticar exercícios. O Pró-Cardíaco e a UFRJ pesquisam ainda a recuperação de pacientes que sofreram enfarte agudo do miocárdio e acidente vascular cerebral, mas os estudos são recentes. _________________________________ Fonte: Jornal da Tarde, 6 de março de 2005 - Cidade |