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‘Nunca tentamos a clonagem humana' 

Cientista responsável pela polêmica pesquisa coreana diz que não destrói
vidas, pois usa óvulos sem material genético

James Brooke escreve para o ‘New York Times’

Uma microagulha havia reunido todo o material genético de um óvulo humano recém-fecundado. Agora, nas sombras de um laboratório escurecido, um técnico de macacão azul picou e perfurou a membrana externa, procurando introduzir uma célula da pele de um paciente com deficiência imunológica.

Finalmente, na terceira picada, a parede emborrachada cedeu. Ampliada 250 vezes numa tela em branco e preto, o óvulo poderia ser visto abrindo espaço para a nova célula epitelial, com seu novo código genético.

"Nunca destruo uma vida durante meu processo", disse Woo-Suk Hwang, diretor do laboratório, seus olhos piscando sobre a máscara cirúrgica enquanto dava ao repórter a oportunidade rara de ver o polêmico processo de transferência de célula humana desenvolvido no pequeno laboratório da Universidade Nacional de Seul.

Para os seus defensores, o relatório de 20 de maio em que Hwang anunciou que havia criado novas colônias de células-tronco que combinavam com o DNA de seus doadores foi um grande salto na direção do sonho de criar tecidos de substituição para condições como ferimentos na espinha dorsal, diabete juvenil e deficiências imunológicas congênitas.

Mas, para seus detratores - e há muitos ao redor do mundo e aqui na Coréia -, Hwang está interferindo na vida humana, empurrando a ciência para um buraco que um dia vai levar à clonagem de bebês.

Em Roma, o monsenhor Elio Sgreccia, da Pontifícia Academia para a Vida da Igreja Católica, disse à Rádio Vaticana que a pesquisa era comparável a clonar embriões humanos, o que chamou de violação dos direitos humanos.

Na semana passada, o presidente Bush anunciou que vetaria qualquer lei que permitisse financiamento para pesquisa de células-tronco criadas de óvulos humanos recém-fecundados, dizendo: "Preocupo-me com um mundo em que a clonagem seria aceita."

Transpirando no laboratório incubador, mantido a tropicais 26º C, Hwang respondeu a esses críticos como habitualmente. "Usamos apenas um óvulo vazio, sem material genético. Os óvulos nunca são fertilizados”, diz ele, argumentando que os embriões nunca são formados. Chegando ao ponto sensível, acrescentou: "Nós nunca tentamos a clonagem humana."

Muitos cientistas e especialistas em ética não concordam, dizendo que, seja qual for a intenção da pesquisa, as entidades que produz são embriões e o processo é clonagem humana.

Ainda assim, a escolha é simples para Hwang, de 52 anos, que debate a ética de sua pesquisa desde que começou a trabalhar na clonagem de porcos e vacas há uma década. "De um lado, você tem 15 micrômetros de células epiteliais, de outro um paciente que sofreu de uma doença incurável", disse.

"Talvez esses 15 micrômetros de célula epitelial possam aliviar e salvar a vida de um ser humano próximo de mim, alguém que sofreu durante 50 anos ou deve sofrer por 50 anos. Dos dois, qual você acha que é eticamente razoável viver?"
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Fonte: O Estado de SP, 1/6. Reproduzido em JC e-mail 2779, de 01/06/2005.

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