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Carreira prolongada 

Pesquisa revela que muitos executivos planejam ficar na ativa depois
dos 60 anos. Se você pretende fazer o mesmo, prepare-se

Por Lia Bock

Se depender só da vontade, boa parte dos executivos vai adiar a aposentadoria até quando der. É o que mostra uma pesquisa recente da empresa mundial de recrutamento Korn/Ferry International, com 2 000 diretores e gerentes de aproximadamente cem países. O levantamento descobriu que 44% deles planejam continuar no batente depois dos 64 anos. Outros 15% afirmam querer trabalhar com mais de 70 anos. No Brasil, esse desejo tem a ver com o aumento da expectativa de vida. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), entre 1991 e 2002, a expectativa de vida no país saltou de 66,9 para 71 anos. De acordo com os pesquisadores, há duas maneiras de interpretar o interesse em seguir trabalhando depois dos 60 anos.  

A primeira revela que há uma falta de segurança financeira entre os profissionais, os brasileiros em especial, quando o assunto é aposentadoria. Não é à toa, portanto, que num outro estudo realizado pelo banco inglês HSBC, divulgado em maio, os executivos do Brasil apareçam como mais pessimistas em relação à aposentadoria do que os profissionais americanos e canadenses. O levantamento da Korn/Ferry indica ainda que outra razão para mais executivos quererem alongar a carreira é a percepção de que estarão com a saúde em dia lá na frente.

Mas qual o impacto dessa decisão na sua vida profissional? O mais evidente é o aumento da competição pelos cargos do topo da pirâmide organizacional. Como quem está lá em cima vai querer adiar seu afastamento, em tese, os gerentes terão que batalhar ainda mais por promoções verticais. Outra conseqüência é exatamente a cobrança para que você esteja bem fisicamente -- que isso se traduza em disposição para se manter atualizado. Quem não ficar de olho nesses aspectos corre o risco de se sentir ameaçado no futuro pelos mais jovens da empresa.

Outro desafio importante é convencer as organizações de que, após os 45 anos, você não vai se tornar descartável. Quem passou dessa idade, em geral, reclama que costuma ser encarado como alguém com "prazo de validade" vencido. A percepção se confirma na prática. Segundo dados do Guia EXAME-VOCÊ S/A As Melhores Empresas para Você Trabalhar, edição 2004, dos mais de 380 000 funcionários das companhias classificadas, só 9% tinham entre 46 e 55 anos e 1%, mais de 55 anos.

A boa notícia é que algumas empresas como o Bristol-Myers Squibb, a corretora AON, o laboratório farmacêutico Apsen e a Votorantim Industrial estão abrindo vagas para os mais experientes. A organização do empresário Antônio Ermírio de Moraes, por exemplo, tem um terço das cadeiras da diretoria preenchido por executivos com mais de 50 anos. "O mercado hoje é muito rápido, não permite erros e, por isso, volta a valorizar os seniores", diz Gilberto Lara Nogueira, diretor corporativo de desenvolvimento humano da empresa.

"As organizações, lentamente, têm percebido que o mais importante é a capacidade de trabalho do executivo, não a sua idade", afirma Rodrigo Araújo, consultor da Korn/Ferry no Brasil. "Se os profissionais são preparados, experientes e dispostos, têm chance, sim, de competir com os mais novos." Segundo o levantamento da Korn/ Ferry, 21% dos entrevistados revelaram que a companhia para a qual trabalham tomam medidas para reter o conhecimento dos mais experientes.

É unânime entre os caçadores de talentos que os contatos, as vivências e a calma dos profissionais seniores não devem ser descartados. Mas, assim como os mais novos devem absorver o que os mais experientes têm a oferecer, a recíproca é verdadeira. E manter-se jovem não significa apagar as rugas, mas estar sempre atualizado e, principalmente, aberto às novidades. "O maior risco para o profissional sênior é achar que já sabe tudo", diz a farmacêutica Luiza Schenberg, de 52 anos, diretora da Planta de Operações Técnicas do Bristol-Myers Squibb.

Luiza trabalha há 27 anos na empresa e afirma ter pique para mais 27. Ela coordena um grupo de 280 pessoas e conta que a receita do trabalho produtivo é mesclar conservadorismo e arrojo. "A impetuosidade dos jovens precisa da calma e da experiência dos mais velhos, e vice-versa", diz ela. Quanto ao tal cansaço que vem com a idade, Luiza rebate: "Eu realmente me canso mais do que quem tem 30 anos, mas sinto que sou mais resistente ao estresse do que eles". A opinião de Felipe Westin, diretor de RH da Bristol, reforça a de Luiza. "A diversidade é o nosso segredo", diz ele. "A maturidade traz tranqüilidade para o trabalho, e isso é indispensável." Perceber essa vantagem é importante tanto para quem tem 30 anos quanto para quem chega aos 50 com a pretensão de continuar ativo. Assim é possível planejar os próximos passos da carreira antes que seja tarde.

O planejamento de uma nova fase

Muitas carreiras e empresas não têm espaço para a mão-de-obra sênior. "Por isso, o desafio nessa hora é aprender a trabalhar em um formato diferente", ensina Luciana Sarkozy, diretora da Career Center. A primeira coisa a fazer é melhorar a forma de se relacionar e fazer um pouco de marketing de si mesmo. Assim é possível usar o conhecimento adquirido para montar uma consultoria ou dar cursos para os novatos. Carmem Rittner, professora de psicologia organizacional da PUC-SP, lembra que hoje há abertura no mercado para executivos compartilhados. Ou seja, aqueles que trabalham meio período para duas empresas pequenas, não concorrentes, ao mesmo tempo. "Isso é bom para o profissional, que terá uma renda compatível com a que estava acostumado, e para as empresas, que terão alguém altamente qualificado", diz Carmem. Dedicar-se a um doutorado para entrar na carreira acadêmica é outra forma de continuar ativo. Todas essas opções precisam ser planejadas com antecedência. Na última hora não adianta.

Presente e futuro no setor de tecnologia

Tecnologia é um setor para jovens, certo? Se a área for a de segurança da informação, a resposta é não. Uma pesquisa da Módulo Security, realizada no ano passado com 114 profissionais de diferentes companhias no país, mostrou que 30% do pessoal do setor tem entre 41 e 60 anos. Esse número re-presenta um aumento de 8% da mão-de-obra sênior se comparado ao ano anterior. Segundo o estudo, a maturidade e a capacidade de gestão são os pontos fortes de quem tem um currículo mais extenso na área. Na própria Módulo, 25% dos colaboradores têm perfil sênior. "Profissionais mais velhos têm mais habilidade para lidar com os clientes", diz Karina Vidinha, coordenadora de RH da empresa.

Quanto mais tarde, melhor

A empresa de recrutamento Korn/Ferry pesquisou com qual idade executivos globais planejam se aposentar. Confira o resultado (em %):

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Fonte: Revista Você S/A, 22/06/2005
http://vocesa.abril.uol.com.br/edicoes/0084/fechado/evolucao/mt_75545.shtml

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