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Açaí substitui produto químico em exame Pesquisa da USP de Ribeirão Preto (SP) mostra que a fruta é opção aos contrastes para exames radiológicos Por Marcelo Toledo De simples fruta a ingrediente de contraste em exames radiológicos. O açaí, típico do Nordeste brasileiro, passou a ser uma opção inédita de contraste natural para exames de ressonância de abdome graças a uma pesquisa da USP de Ribeirão Preto. Nos testes realizados no HC (Hospital das Clínicas) da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, da USP, a ingestão de 200 ml (um copo) de polpa de açaí pelos pacientes submetidos a exames de ressonância melhorou sensivelmente a qualidade das imagens obtidas. Desde o início do ano, 34 pacientes participaram do projeto, que tem a vantagem de ser natural e mais barato (uma dose comercial de contraste custa cerca de R$ 66, contra R$ 2 do açaí). Segundo o professor do Depto. de Física e Matemática da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto Dráulio Barros de Araújo, que coordena a pesquisa, na análise do intestino, por exemplo, as alças normalmente ficam sobrepostas, mas, com o uso do açaí como contraste, as alças desaparecem do campo visual e restam somente os dutos na imagem. Os órgãos que mais têm sido examinados são o pâncreas e o intestino, mas o estômago e as vias biliares também já foram analisados após a ingestão de açaí. A pesquisa é feita pelo Departamento de Física e Matemática da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, o Centro de Ciências da Imagem do HC e a Embrapa de São Carlos, com o pesquisador Luiz Alberto Colnago. De acordo com Araújo, a hipótese para essa propriedade contrastante do açaí está na presença de metais em sua estrutura, como o manganês e o ferro. ‘Não testamos outros vegetais, como o quiabo, por exemplo, que é rico em ferro. Nos EUA, foram feitos testes com blueberry [fruta típica do país]’, afirmou. Nos laboratórios da USP e da Embrapa, estão em curso estudos sobre a composição química do açaí, para confirmar as concentrações de ferro e manganês, além da presença de cálcio. O trabalho de substituição do contraste teve início no ano passado, quando a equipe de Araújo começou a pesquisar os movimentos gastrointestinais e tirou da gaveta um projeto antigo de usar um produto natural. ‘O professor Oswaldo Baffa usava iogurte com componentes de ferro, que era ingerido pelos pacientes para detectar sinais magnéticos no organismo, mas a idéia era utilizar algo natural. Surgiu, então, a idéia do açaí.’ De acordo com Baffa, em 1988 teve início o desenvolvimento de métodos para o estudo do movimento gastrointestinal na USP de Ribeirão, que queria saber, por exemplo, qual era o tempo que o alimento ficava no estômago. Esse projeto pode ser considerado um embrião do estudo atual. ‘Dávamos um alimento-teste com material magnético aos pacientes. Como o corpo humano é transparente ao campo magnético, sabíamos onde as partículas estavam’, disse Baffa. O problema, segundo ele, é que as partículas usadas eram inorgânicas, como magnetita ou ferrita. ‘Sabíamos das histórias de o açaí ser rico em ferro e decidimos testar. O resultado até agora é muito bom’, disse o pesquisador. A pesquisa, ainda não concluída, prevê agora apurar a receptividade da idéia pelas crianças e a comparação com os contrastes comercializados no mercado. Nem sempre é necessário o uso de contrastes, mas, para algumas situações, o procedimento é considerado fundamental, de acordo com o médico do HC Jorge Elias Júnior, do Departamento de Clínica Médica da faculdade de medicina. ‘O açaí é uma alternativa interessante principalmente por ser natural e ter custo baixo.’ Usuário aprova, mas falta teste de qualidade
Voluntário afirma que, ao contrário do contraste químico,
açaí não deixa ‘gosto de remédio’ na boca. Pacientes que já passaram
pelo exame de ressonância magnética com o uso do açaí relataram que
a principal diferença é o gosto, que não lembra remédio, como os
contrastes comerciais. A pesquisa agora vai comparar o açaí com os agentes comerciais usados para contraste. ‘Queremos definir se o padrão de qualidade é o mesmo. Pelo que já estudamos, acreditamos que sim’, afirmou o pesquisador Dráulio Barros de Araújo. Os contrastes comerciais custam cerca de R$ 200 (três doses), enquanto a dose de 200 ml do açaí fica em menos de R$ 2, já que são usadas polpas comercializadas em supermercados. ‘Agora é a fase de percebermos as variações no cultivo e encontrar quais moléculas são responsáveis por isso para, quem sabe, chegarmos a um produto sintetizado a partir do açaí. Já percebemos diferenças de uma marca para outra’, afirmou Baffa. Além disso, a pesquisa vai apurar a receptividade pelas crianças -todos os 34 pacientes já pesquisados eram adultos. ‘A criança quer algo palatável. Achamos que pode dar certo’, disse Araújo. ‘Geração saúde’
O consumo da polpa do açaí, fruta de origem paraense, começou
a ser disseminado por praticantes de artes marciais no começo da
década de 90. Pouco depois, virou febre no RJ. Em SP, a moda chegou
no verão de 1997 e caiu no gosto dos jovens e dos esportistas, que
consomem a fruta como complemento energético com granola ou com
frutas, como banana.
Fonte: Folha de S.Paulo,10/12/2004, reproduzido no JC e-mail 2665, de 10/12/2004. |