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Pesquisa da Fiocruz: Um país de desdentados

Pesquisa revela que 14,4% dos brasileiros perderam todos os dentes. Número sobe para 56% entre mulheres com mais de 50 anos

Por Adriana Freitas

No país em que dentadura virou ícone de promessa política, muitas vezes as mazelas começam pela boca. Pesquisa coordenada pela Fundação Oswaldo Cruz revela que 26 milhões de brasileiros - 14,4% da população - já perderam todos os dentes. Entre as mulheres de baixa renda com mais de 50 anos, os números ganham contornos ainda mais preocupantes e atingem 55,9%. O estudo, divulgado nesta terça-feira, integra a Pesquisa Mundial de Saúde, desenvolvida pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

Até a arcada dentária do brasileiro reflete a desigualdade que se arrasta há anos no país. Entre os entrevistados considerados carentes - com até três bens -, 17,5% são desdentados. Na parcela mais rica, a estatística cai para 5,9%. Ligada à Fiocruz, a coordenadora da pesquisa, Célia Landmann Szwarcwald, ressalta que as informações servem de base para orientar futuras políticas de saúde no Brasil.

'Os números são graves, e vêm de uma história de pouco cuidado com o dentes. recentemente foi chamada atenção para saúde bucal, que passou a fazer parte da assistência pública, mas o processo ainda é muito precário. Há pouco começou a aparecer propaganda na mídia, com prevenção e escovação', avalia Célia.

O
ambulante Remi Pereira de Araújo, de 32 anos, trabalha no Centro do Rio e não tem plano de saúde. Com freqüência, procura os hospitais da rede pública, mas vai às clínicas populares quando precisa de atendimento odontológico. ' arranquei seis dentes, todos da parte de cima. É mais barato arrancá-los do que fazer obturação. Pago R$ 10 por cada extração', explica.

De janeiro a setembro, cinco mil famílias de todas as regiões brasileiras e de todas as classes sociais responderam ao questionário da Fiocruz. Entre os cidadãos de baixa renda, o que mais pesa no bolso são os medicamentos, representando 61% das despesas com saúde. Entre os mais ricos, o maior gasto é com planos de saúde (39%). A saúde, que nem sempre vai bem, consome 19% da renda média domiciliar mensal do brasileiro.

Quando não restam opções, a população não hesita em se desfazer de seus bens para pagar tratamentos: 9,1% dos entrevistados já tiveram de vender bens ou pedir empréstimos para cobrir despesas com saúde. Os hábitos alimentares também integram o levantamento da Fiocruz. Dos entrevistados, 10% foram considerados obesos e 28,5% estão acima do peso.

A obesidade é mais comum entre as mulheres, principalmente a partir dos 35. A porcentagem de pessoas abaixo do peso é de apenas 5%. O fumo é hábito mais freqüente entre os homens - sobretudo os de classes menos favorecidas. Neste caso, o percentual chega a atingir 33% a partir dos 35 anos. Para ambos os sexos, as proporções de fumantes são menores entre jovens, o que pode ser um indício de diminuição do hábito de fumar na população brasileira. Assim como o tabagismo, o hábito da bebida alcoólica predomina entre os homens: 25% relataram ter consumido cinco doses ou mais de álcool na semana que antecedeu a entrevista.

O percentual de mulheres chega a 6%. O consumo de bebida por condição social obedece, no entanto, ao padrão inverso encontrado no o hábito de fumar. Os que mais fumam são os de padrão social elevado. A pesquisa revela ainda que não há sinais de redução do hábito de fumar na geração mais jovem.

No que diz respeito à atividade física - seja durante o trabalho ou nos momentos de lazer -, 24% relataram menos do que 150 minutos por semana - o que é considerado insuficiente pela Organização Mundial de Saúde. O percentual de sedentários tem a marca de 20% entre os indivíduos mais idosos e mais pobres.  A pesquisa registrou que a percepção de saúde das mulheres mostra-se pior do que a dos homens: o percentual de saúde 'boa e muito boa' foi de 47% para o sexo feminino e de 60%, para o sexo masculino.

'A masculinidade pressupõe não sentir dor e isso acontece em vários países do mundo, onde o mesmo comportamento é descrito. Existe relação entre a auto-percepção da saúde e a taxa de mortalidade. As mulheres têm uma avaliação pior da saúde, utilizam mais os serviços e morrem mais tarde do que os homens', conclui Célia.

Fonte: JC e-mail 2572, de 19 de Maio de 2004  (Jornal do Brasil, 19/5)

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