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Expectativa de vida do homem tende a alcançar a da mulher

Elas vivem, em média sete anos a mais que eles, que estão cuidando mais do corpo

Por Stéphanie Noblet

As mulheres continuam à frente dos homens. Mas discreta e seguramente eles começam a alcançá-las. É a tendência observada pelo Instituto Nacional de Estudos Demográficos (Ined) sobre a expectativa de vida respectiva dos homens e das mulheres, cuja distância tende a diminuir. Essa constatação, feita pela pesquisadora France Meslé, é detalhada no último boletim mensal do Ined, "População e Sociedades", em um estudo intitulado "Expectativa de vida: uma vantagem feminina ameaçada?"

Por trás desse título não há uma nota alarmista: globalmente, a expectativa de vida continua progredindo nos países industrializados, tanto para os homens quanto para as mulheres. Somente o episódio do calor excessivo no verão de 2003 contrariou brutalmente as curvas paralelas e sempre ascendentes da longevidade.

A expectativa de vida, que progredia a cada ano em 0,15 ano para as mulheres, teve uma ligeira queda em 2003 (82,9 anos contra 83 anos no ano anterior), enquanto a dos homens (75,9 anos contra 75,8 anos em 2002) progrediu ligeiramente: 0,1 ano a mais em 2003, contra 0,25 em média por ano durante dez anos.

O aumento de mortalidade constatado entre 1º e 20 de agosto de 2003 (15 mil mortos ao todo) foi sensivelmente maior entre as mulheres (70%) que entre os homens (40%), segundo um estudo do Instituto Nacional de Saúde e Pesquisa Médica publicado em setembro de 2003.

Mas fora esse episódio excepcional a tendência básica confirma, segundo o Ined, a redução da desigualdade entre os sexos diante da mortalidade. Essa desigualdade, que não parou de se acentuar durante 30 anos em benefício das mulheres, começou a se estabilizar e até a diminuir desde o início dos anos 90 na França: a distância entre as expectativas de vida feminina e masculina era de apenas 7 anos em 2003, enquanto havia atingido o pico de 8,2 anos na década de 80.

Além da diferença, aparentemente mínima (1,2 ano), a autora do estudo vê nessa inversão de tendência "um movimento de conjunto importante" que afeta todos os países de baixa mortalidade. Essa inversão na verdade foi observada sucessivamente nos países anglo-saxões nos anos 70, nos países do norte da Europa (como a Suécia) dez anos depois e finalmente nos países mediterrâneos (França, Itália) dez anos depois.

Para compreender os motivos desse movimento, é preciso salientar dois fatores determinantes na evolução das diferentes causas de morte: os comportamentos individuais diante da saúde e os progressos médicos. Historicamente, lembra o Ined, as mulheres sempre foram favorecidas nesses dois planos: "Mais próximas dos serviços médicos durante toda a vida, por meio da contracepção, da maternidade ou da saúde de seus filhos, elas se beneficiaram plenamente da prevenção e dos novos tratamentos".

"Vantagem biológica"

Segundo France Meslé, as mulheres também são dotadas desde o início de uma "vantagem biológica" que lhes daria, por motivos biológicos unicamente ligados a seu sexo, uma longevidade maior que a dos homens - um "bônus" da ordem de 2 anos.

Para elucidar essa idéia, Meslé tomou o exemplo das "crianças bem pequenas, entre as quais se constata hoje uma ligeira mortalidade maior (30%) dos meninos antes de 3 meses, antes mesmo que a cultura e a sociedade tenham influenciado seu comportamento". A desigualdade homem/mulher diante da mortalidade, portanto, estaria presente desde o nascimento, mas "o essencial é o cultural e o social", estima a autora do estudo, em tom de incentivo.

Portanto, foi principalmente pela modificação ativa de seu comportamento que mulheres e homens, independentemente, reduziram a diferença entre suas respectivas expectativas de vida. Para os homens, dois tipos de explicação são oferecidos. De um lado, eles abandonaram ou pelo menos evitaram os comportamentos nocivos à saúde.

No passado, "mais envolvidos em atividades profissionais de risco, consumindo mais álcool e tabaco, dirigindo com maior freqüência, os homens foram afetados mais prematuramente e mais fortemente que as mulheres pelas doenças da sociedade", indica o estudo. Logicamente, a explosão dos acidentes de trânsito e o aumento do câncer de pulmão haviam ampliado a diferença com as mulheres.

Mas nos últimos anos, devido à política de combate ao tabagismo, a queda do consumo de cigarros, maior entre os homens que entre as mulheres porque mais antiga, conduziu a "uma inversão da mortalidade cancerosa masculina ligada ao tabagismo", segundo Meslé. "Levando em conta o longo prazo de latência entre a intoxicação por tabaco e o desenvolvimento dos tumores malignos, os efeitos da redução do consumo masculino sobre a mortalidade por câncer bronco-pulmonar só se tornaram visíveis recentemente", explica o estudo. "Essa nova evolução foi determinante na redução da diferença de expectativa de vida entre os sexos verificada na França em 1992."

As fumantes

Além disso, os homens também tiveram a boa idéia de se inspirar na conduta das mulheres em termos de prevenção. A maior preocupação com uma alimentação saudável e controles regulares dos fatores de risco (tensão, colesterol), aliados aos avanços em cardiologia, permitiram aos homens em geral "tirar partido dos progressos alcançados na luta contra as doenças cardiovasculares, partindo de um nível mais elevado de mortalidade, eles puderam obter ganhos superiores aos das mulheres".

Mas essa redução do "atraso" dos homens não significa, segundo o estudo, que a mortalidade superior masculina diminua em todas as idades. O exemplo mais notável é o das mortes acidentais: aos 20 anos, um homem tem um risco três vezes maior de morrer que uma mulher da mesma idade.

Do lado das mulheres, a tendência em termos de comportamento é menos favorável que entre os homens, particularmente sobre a questão do tabagismo: a parcela de fumantes habituais cresce regularmente. Mas essa modificação dos comportamentos femininos ainda não permite, segundo a pesquisadora, falar em inversãos retardados do tabagismo. No momento atual, a mortalidade ligada ao tabaco entre as mulheres continua nitidamente inferior à dos homens.

A redução das diferenças de expectativa de vida entre os sexos, portanto, deve-se amplamente à aproximação dos comportamentos entre homens e mulheres, e a efeitos de recuperação estatística. "Esse fenômeno era previsível", explica a pesquisadora do Ined, "mas a surpresa se deve ao fato de que não tenha acontecido antes e que tenha sido preciso esperar os anos 90 para que ocorresse na França."

Contra-exemplo japonês

Excluído do movimento observado nos outros países industrializados, o Japão apresenta a particularidade de ser o único país de baixa mortalidade onde a diferença de expectativa de vida entre os sexos continua aumentando.

Em 2000, o "atraso" dos japoneses em relação às japonesas (6,9 anos de diferença para expectativas de vida respectivas de 77,7 e 84,9 anos) se assemelhava ao observado na França (7,5 anos, para 75,3 e 82,8 anos), enquanto lhe era inferior em quase 3 anos duas décadas antes.

O papel preponderante do câncer e das doenças cardiovasculares, especialmente entre os 60 e 80 anos, é igual nos dois países. Mas a exceção japonesa se deve ao peso das doenças respiratórias em idade avançada, que aumentou significativamente, tornando-se a terceira causa de mortes e contendo o progresso da expectativa de vida masculina. No país do Sol Nascente, "o desafio agora se deslocou para as idades mais elevadas", conclui o Ined.

Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

Fonte: Jornal Le Monde On-Line
03/06/2004

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