![]() |
||||||||||||||||
Educomunicação[1]
na terceira idade Revista ENGRAMA – registro de um fato deixado na memória
“Ficamos empolgadíssimos com a preparação da revista. Ela é totalmente feita por nós: cada um escreve um texto próprio que é lido em classe e submetido a votação para decidir se será incluído ou não. Muitas vezes, quando um colega lê seu texto para nós, rimos muito e às vezes até choramos, pois nos identificamos com sua história. A capa também é criação nossa, através de desenhos originais ou montagem. Uma das seções mais esperadas e que tornam nossas aulas verdadeiramente saborosas é a de culinária, pois para que a receita seja aprovada ela tem que ser degustada em classe... E aí, tudo vira uma festa! Terminada a fase de criação, algumas alunas se encarregam de digitar os textos, enquanto outras – da equipe comercial – vão atrás de anunciantes (pois se não for com a cooperação deles de nada valerão nossos esforços!) e outras ainda visitam gráficas para fazer levantamento de preços. Depois disso tudo, a revista é impressa. São mil exemplares distribuídos gratuitamente entre nossos colegas, familiares, professores, anunciantes, estudiosos de gerontologia e comunicação social. Nossa alegria e orgulho são indescritíveis! É muita emoção ter em mãos um trabalho totalmente feito por nós!”
Programa de rádio
“Embalos de domingo à tarde”
Como na aula anterior, a animação é muito grande. Quando entro na sala, todos estão olhando as fotografias tiradas no domingo, durante o programa realizado pelo grupo, na Rádio Ação, em Quitaúna, Osasco. Riem alto... Riem gostoso! Um álbum de fotografia passa de mão em mão. Todos querem tirar cópias. Passam lista... Coloco no aparelho de som um pequeno trecho do referido programa que apresentaram ao vivo – um tanto diferente do roteiro previamente planejado por eles em aula. O motivo da alteração dos planos? Ângelo Máximo, cantor popular, famoso na década de 70, visitava a rádio em comemoração ao 4º aniversário da pequena emissora comunitária. Tal acontecimento não poderia passar em branco para os apresentadores que, rapidamente dominaram a insegurança, venceram a inibição e se organizaram para realizar com ele uma entrevista! Ao ouvirem, atentos e risonhos, mais emoção. Euforia até... O brilho nos olhos revela alegria e satisfação por terem realizado com competência a tarefa, como também por reconhecerem na gravação as suas vozes, a de seus colegas e do simpático entrevistado. Ivonete, que comparecera pela 1ª vez no domingo, diz: “Eu fui pega de surpresa!...Eu não sabia que ia falar no programa... Muito menos que ia entrevistar o Ângelo Máximo!... Foi maravilhoso!...” Luís afirma que “as perguntas foram maravilhosas, pertinentes, inteligentes, muito boas...” Por fim, Dona Guilhermina, a Guigui, aluna mais idosa do grupo, que até então dissera não poder ir à rádio, porque não teria filho que pudesse levá-la à emissora, diz, resoluta “no próximo domingo eu vou!...”.... Do que estamos falando? O depoimento inicial dos alunos e o breve relato desta professora referem-se às aulas de Multimeios, desenvolvidas de 1998 a 2001, como uma das disciplinas oferecidas pela UNATI/FITO FEAO - Universidade Aberta à Terceira Idade, localizada no Município de Osasco, São Paulo. Mais especificamente, dizem respeito a duas atividades dessa disciplina: a composição de uma revista impressa e a realização de um programa de rádio, inteiramente realizadas pelos estudantes. O que pretendíamos com essas atividades? Tínhamos a intenção de criar oportunidade para que os estudantes da terceira idade experenciassem processos de produção de mensagens. Objetivávamos que ao produzir do jeito deles o que bem quisessem tornar público através da palavra escrita, de ilustrações e de som, fizessem valer o direito que também possuem de incluir suas idéias e sentimentos em diferentes meios de comunicação. O que está na base desse tipo de ação? - A necessidade de democratização dos meios de comunicação no Brasil, onde se conta nos dedos o número de grupos detentores desses veículos. - A urgência de contribuir para a formação de pessoas mais críticas em relação às mensagens veiculadas pela grande mídia. - A possibilidade de pela expressão e socialização de sentimentos e pensamentos contribuir para que as pessoas, especialmente mulheres, se constituam Autoras. - A convicção de que talentos e habilidades são desenvolvidos, independe da fase da vida. - A certeza de que, enquanto estivermos vivos, precisamos cada vez mais aprender a trabalhar em grupo, como forma de ampliarmos nossa capacidade de escuta, de diálogo e disposição para mudanças, sempre tão salutares para a promoção de nossa saúde. De que metodologia nos valemos? Adotamos a metodologia Cala-boca já morreu[2] , a qual coloca os participantes do grupo como verdadeiros agentes de todas as etapas de desenvolvimento do trabalho coletivo. O que ressaltamos na proposta Comunicação é um conteúdo que precisa ser incluído no currículo de todo e qualquer curso que se proponha a formar pessoas. Em se tratando de proposta educacional voltada para a terceira idade, observamos que os estudantes, ao se apropriarem de diferentes linguagens e tecnologias, ao mesmo tempo em que passam a usá-las a favor de si mesmos, tornam-se mais seguros, mais altivos, fortalecidos para que, como sabiamente disse a aluna Odete, essa nova etapa da existência signifique “seguimento de vida”, ou seja, que passe a certeza de que continuam vivos, capazes de criar e de sentir prazer. [1] Pesquisas do http://www.usp.br/nce/aeducomunicacao/ apontam o surgimento desse novo campo do conhecimento que nasce da inter-relação Comunicação/Educação e de um novo tipo de profissional, o educomunicador.
[2]
O nome da metodologia traduz o que pretende o projeto que a
gerou - contribuir para que pessoas, independente de idade,
gênero, origem ou condição social exerçam o direito não só de
receber informação, mas de produzir comunicação.
Grácia Lopes Lima
Grácia Lopes Lima, Mestre em
Ciência da Comunicação pela ECA/USP, doutoranda pela FE/USP,
Coordenadora Educomunicacional do GENS- Serviços Educacionais e
do Projeto Cala-boca já morreu. |
![]() |